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Editorial edição 88

 

Milton Saldanha

 Eleições

Só agora, aos poucos, começo a sair da ressaca das eleições. Foi um período intenso, vivendo isso, acordando e dormindo com isso. Não apenas por ser nosso destino em jogo, mas principalmente porque tenho irresistível atração pelo tema. Aos 9 anos de idade, vivi intensamente a comoção nacional do suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954. Acreditem, mas ainda hoje, aos 57 anos, sou capaz de contar aquele dia com seus mínimos detalhes, como se tivesse sido ontem. Lembro-me também de cada minuto do contragolpe de 11 de novembro de 1955, quando o general Lott colocou suas tropas nas ruas do Rio de Janeiro para derrubar o presidente interino Carlos Luz e assegurar a posse de Juscelino Kubitschek. Dá para entender: eu morava lá, em plena Vila Militar, meu pai era capitão do Exército, tudo acontecia na frente da nossa janela. Desses episódios em diante, nada do que aconteceu na História deste país fugiu ao meu acompanhamento, e da busca de entendimento. Muitas vezes, como jornalista, também da análise.

Aos 13 anos, bandeira em punho, já subia em palanques de comícios e trabalhava em comitês. Em muitos momentos, ainda que sempre como figurante, tive minha modesta quota de participação. Por exemplo, ter sido mais um dentro das multidões que foram às ruas pedindo Diretas Já. Foi uma atitude política de grande relevância. Imaginem se todos tivessem desprezado sua própria importância e ficado em casa. Lá, eu sabia que estávamos sendo parte de uma fantástica sinergia. No mais belo e emocionante dos comícios, no Vale do Anhangabau, éramos um milhão de pessoas. Com um só grito, trocando abraços, muitos em lágrimas, poderosos e vitoriosos. Só quem também estava lá e viveu isso pode entender o alcance dessas palavras. Muito antes, no início dos anos 70, conheci o lado mais tenebroso de uma ditadura, como preso político. É uma história longa, do mais duro realismo, cheia de lances dramáticos. Acima de tudo, uma experiência definitiva. Depois daquilo, nada é insolúvel. Amparado na Constituição de 88, fui em busca da minha anistia. Mais quatro anos de processos, recursos, burocracia, diversas viagens à Brasília e andanças pelos corredores do Ministério do Trabalho. Ufa, consegui! Cerca de dois mil ex-perseguidos políticos, homens e mulheres, ainda lutam por esse direito.

Nesta eleição, não sem uma inevitável nostalgia, voltei a ser nas ruas o anônimo militante que deseja o melhor para o seu país. Sem qualquer vantagem pessoal, apenas pela vontade de lutar. Urge agora respeitar os perdedores, pois na democracia num dia se ganha, em outro se perde. Arrogância e revanchismo só combinam com autoritarismo. Mas também antecipar a frustração popular, ainda que o risco seja evidente, é uma arrogância ainda maior, típica de quem acha que só a elite tem o direito de governar, e de errar, aliás como fez na maioria dos casos. A prova é que o Brasil está nesse buraco.

Sair deste universo para voltar à nossa aldeia requer indiscutível esforço. Cotejado com o momento histórico que vive o Brasil, sem precedentes desde a Revolução de 30, o tema da nossa especialidade, a dança, fica parecendo por demais pueril. Todavia, por mais que seja inadiável discutir assuntos como a fome de milhões de brasileiros, é preciso reconhecer que o espírito também precisa de alimento. Ele vai se nutrir no bem-estar, nas artes, no direito ao lazer, na paz de espírito. Então aquilo que num primeiro momento era supérfluo, aos poucos vai se reconvertendo em essencial. Voltamos ao nosso papel, trabalhando pela dança. Nosso lema resume tudo: Lutar, sempre. Perder a alegria de viver, jamais.

Luiz Henrique da Silveira

Não conheço, sinceramente, algum administrador que tenha feito mais pela dança do que Luiz Henrique da Silveira, o governador eleito de Santa Catarina. Luiz Henrique (PMDB) foi duas vezes prefeito de Joinville, uma das mais interessantes e agradáveis cidades do Brasil. Nas suas gestões consolidou-se de vez o Festival de Dança de Joinville, dirigido no dia a dia por Edson Busch Machado (presidente) e Ely Diniz (secretário-executivo). Construiu o mega teatro Centreventos Cau Hansen, que tem o maior palco do Brasil, e que recentemente ganhou um irmão menor, o Teatro Juarez Machado. Injetou recursos na Escolha Teatro Bolshoi, hoje com uma estrutura que talvez não tenha paralelo no mundo. (Não deixe de conhecer). Aplicou na área social, através da dança, abrindo oportunidades para crianças de famílias carentes.

Enfim, Luiz Henrique da Silveira trabalhou, e muito, pela dança. Ganhou apoiado e apoiando Lula. Agora pretende repetir no Estado a política cultural que o consagrou em Joinville. Uma das idéias, segundo Edson Bush Machado, que priva da intimidade com o governador, será construir "mini centreventos" em todos os municípios que são sedes regionais. Com isso pretende criar novos pólos culturais, democratizando e descentralizando essa área, geralmente restrita aos grandes centros. Essa política, claro, vai respeitar as culturas locais, dando atenção, por exemplo, às danças étnicas e regionais, fortíssimas nos três Estados do Sul.

A vitória de Luiz Henrique é sem dúvida uma vitória da dança. Quem conhece o governador pode apostar nisso.

Salsa

Está sendo animador e contagiante o entusiasmo de Ricardo Garcia e Douglas Mohmari, fundadores do grupo Conexión Caribe, na organização do 2º Encontro Nacional de Salsa, que ocupará os salões do H Project dias 15, 16 e 17 de novembro, com dois bailes, vários workshops e muita integração entre os dançarinos. Quem esteve no primeiro Encontro certamente deve concordar que foi um grande sucesso, não só pelo expressivo comparecimento ao baile e aos cursos, mas principalmente pelo agradável ambiente desfrutado por todos naquelas horas, com muita integração.

Iniciativas como esta são elogiáveis, porque além de quebrarem a rotina do meio dançante de salão, trazem para os brasileiros os melhores traços de culturas muito próximas da nossa realidade. Representa identificação com nossas aspirações latino-americanas, no modo de encarar a vida, a diversão e a arte. Quebra barreiras e abre horizontes em novas direções, como, por exemplo, na prevalência do castelhano sobre o inglês.

Douglas e Ricardo são guerreiros. Se alguém pensa que ganharam dinheiro com o primeiro encontro, estará enganado. Pelo contrário, saíram com um pequeno prejuízo, mas não suficiente para desanimá-los, como se vê agora.

Pessoas como eles são essenciais para a dança de salão em São Paulo. Por isso merecem ser apoiados e prestigiados, como faz este jornal. Faça também sua parte. Vá ao evento. E depois a gente conversa. 

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