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Editorial edição 80

 

Perguntas & Ponderações

 

Milton Saldanha

É correto "panfletar" na casa dos outros?

 

Na primeira quinzena de março Dance recebeu duas queixas, de casas diferentes, contra pessoas que distribuíram panfletos em seus bailes sem nenhuma autorização para isso. Num dos casos, segundo um dos queixosos, o problema teria continuado mesmo depois de um diálogo e apelo para suspensão da distribuição. A primeira vista isso parece um episódio menor, irrelevante. Mas não é. Antes e acima de qualquer discussão, trata-se de uma questão de educação.

Na panfletagem não existem regras declaradas ou escritas, mas implícitas no bom senso. Uma delas, ou melhor, a primeira delas, é que jamais se entra na casa alheia para distribuir folhetos, brindes ou convites, sem autorização. É feio.

Já sugeri neste espaço que os bailes coloquem um display ou mesa na entrada para essa finalidade. Mas não é por isso que vai virar feira livre, o interessado tem que pedir licença. Uma das vantagens dessa idéia é que acaba a poluição visual nas mesas. Quantas vezes os promotores decoram com esmero seus salões, deixando tudo bonito, e depois eles próprios avacalham enchendo as mesas de panfletos. É muito comum alguns folhetos caírem sobre a pista de dança ou nos corredores durante o baile. Além da imagem de desleixo que isso passa, dando a impressão de lixo jogando no chão, o aparentemente inofensivo papelzinho se transforma numa armadilha. Conforme o jeito de pisar, a pessoa escorrega e pode se machucar seriamente. Imaginem depois a vítima processando a casa por falta de segurança e negligência. Criada a jurisprudência (decisão de um tribunal que pode servir de parâmetro para decisões de outros tribunais), e fica montado o arcabouço de uma indesejável indústria de indenizações.

Convém deixar claro que não condenamos o panfleto, sobretudo quando feito com criatividade, bom-humor, simpatia, sem agredir a gramática. É legítimo cada um batalhar por seu baile. Só que isso não pode ser de qualquer jeito e a qualquer custo, pois a invasão irrita e causa incidentes que podem ter desfechos imprevisíveis.

Quem freqüenta o Avenida Club, por exemplo, encontra com freqüência o funcionário de um certo baile entregando panfletos de mão em mão na própria escada de entrada da casa. É o único que faz isso ali. É falta de respeito, de ética, de tudo, mas o humilde funcionário não tem culpa de nada, vai lá por ordem do seu patrão. Justo no Avenida, uma casa que jamais fez isso na porta de ninguém. A Zais tem a mesma postura e também tem sido invadida por panfletos não autorizados.

Quando o período da campanha eleitoral esquentar, a vigilância terá que ser redobrada, porque a cara de pau dos políticos e dos seus cabos eleitorais não tem limites e o assédio aos dançarinos pode ser tornar ainda mais insuportável.

Nosso meio dançante tem virtudes maravilhosas, que já cansamos de exaltar nestas páginas. Mas tem também ainda muito o que aprender e melhorar. Se os exemplos mais educativos não partirem dos próprios promotores de bailes, começando pelo respeito que uns devem aos outros, será muito difícil cobrar do público as coisas mais básicas em comportamento social. Perceba a expressão, "as coisas mais básicas..." Porque o caminho a trilhar é ainda muito longo, árduo e, infelizmente, desolador.

Para que servem os seguranças?

A famosa transformista Rogéria, que é do ramo, garante: todo sujeito metido a machão está na verdade procurando esconder suas verdadeiras preferências sexuais. Recentemente vi uma cena típica num baile onde havia muita gente. Um grupinho, aí pela casa dos 35 anos de idade, todos fortinhos, se postou na pista fazendo tudo que não se faz: bebendo cerveja, fumando, bloqueando a circulação dos dançarinos. Quando um casal reclamou, e com toda razão, um deles tentou partir para a briga e, felizmente, foi contido por seus amigos.

Ora, estava na cara que aquelas gracinhas não são do nosso meio. Que pena que não ficaram em casa vendo lixos como Big Brother, identificados pela falta de cérebro. Mas infelizmente estavam lá. E tanto Rogéria tem razão, que eles não estavam nem aí para a enorme quantidade de mulheres sem parceiros e loucas para dançar. Ficaram o tempo todo juntos, sempre bebendo e adotando atitudes provocativas, que poderiam resultar em confusão a qualquer momento. Ainda bem que o pessoal percebeu a situação e ficou longe deles, estabelecendo uma delimitação invisível da pista.

Culpa de quem? Da casa, que não colocou seguranças em número suficiente e devidamente treinados para situações como esta. Os clientes pagam por diversão sadia e pelo direito à pista para dançar. Não é justo que desistam e voltem para casa irritados.

Além daqueles guarda-roupas, montanhas de músculos, seria interessante que as casas tivessem também seguranças diplomáticos e habilidosos na desarticulação de ameaças de incidentes. Homens, ou mesmo moças, que tivessem como armas a simpatia e o sorriso. Chegariam lá e, numa boa, explicariam às antas que não se bebe nem se fuma na pista, que a turminha não pode atravancar o fluir do baile, etc. A intervenção dos seguranças pesados seria sempre a última e inevitável alternativa 

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