Home Arquivos Anunciar Download Contato

 

Editorial edição 79

 

Milton Saldanha

Personal dancer é uma grande sacada, 

que pode ajudar as academias

 

Antes é preciso superar o preconceito, quebrar tabus, reciclar mentalidades, inclusive de dançarinos que fazem esse trabalho temendo a exposição pública. Mas o principal já existe: o apoio das mulheres.

Só existe uma maneira de se vencer qualquer preconceito: no confronto, encarando-o de frente, abertamente, sem meias palavras. É o que fazemos nesta edição, ao eleger como tema principal a figura do personal dancer, ou dançarino de aluguel. É o homem, de qualquer idade, que dança bem todos (ou quase todos) os ritmos e que é pago para acompanhar uma dama ou grupo de damas num encontro dançante, seja um baile público ou até mesmo numa festa fechada. Ou, ainda, o dançarino pago por uma casa noturna para dançar com várias mulheres, o tempo todo, tornando assim menos enfadonho o velho e inevitável chá de cadeira.

Estamos elegendo o termo "personal dancer", apesar de todas as restrições que já expressamos neste espaço contra o uso sem critério de palavras inglesas em nosso país. A razão é muito simples: o termo "dançarino de aluguel" é horrível. Personal dancer realmente soa bem melhor e permite ainda associação com outro que já pegou, o "personal trainer", da turma da malhação.

Ao escolher este assunto, tomando como "gancho" (em jornalismo o que é notícia/novidade numa matéria), o lançamento da nova "Rio do Tempo", de Francisco Ramos, primeira empresa de São Paulo especializada em serviços de personal dancer, descobrimos muitas coisas. A principal foi o apoio unânime das mulheres à idéia. Bem que tentamos achar uma opinião contrária, seria interessante para estimular um debate, mas sinceramente não conseguimos. Por isso os depoimentos foram reduzidos ao máximo para não tornar a matéria chata e repetitiva, porque são todas a favor. Então não há preconceito? Claro que há, mas não explícito. Ainda que não caiba comparação, seria mais ou menos como o racismo: é praticado a todo momento, mas todo mundo finge que não tem nada com isso. No Rio de Janeiro, onde esses serviços existem há mais tempo e são muito comuns, as opiniões não transitam com tanta paz como em São Paulo. Lá, segundo Rubem Mauro Machado, do Dance, já há mulheres reclamando que seus velhos amigos e parceiros não dançam mais com elas, pois ficam contratados o tempo todo. Por aqui, é esperar para ver.

A segunda constatação, e agora para puxões de orelhas, foi de que o preconceito é fomentado, pasmem, por alguns dos próprios personal dancers, que se escondem, como se estivessem praticando uma atividade pouco honrosa. Deveriam ser os primeiros a tratar disso com naturalidade, a mesma naturalidade que leva todo mundo a aceitar numa boa aulas de dança. Ou que diferença faz pagar academia/professor particular ou pagar parceiro num salão? Comércio por comércio – ficando no campo só dos negócios – é tudo igual.

Marco Antonio Perna, do Rio de Janeiro, bem informado no meio, em seus artigos no Dance já tinha passado sutilmente pela questão de dançarinos -- e com certeza uma minoria -- chegadinhos em esticar suas obrigações para além das pistas, ou seja, conduzindo senhoras carentes também aos lençóis. Sexo é vida íntima e só interessa a cada um, pagando ou não, pouco importa, é problema deles, mas quando isso se mistura com a dança em termos profissionais fica complicado. Atrapalha a vida do profissional sério e também da pessoa que busca um parceiro de dança e não sexo. Ambos passam a temer olhares maldosos e os inevitáveis fuxicos e isso fomenta o preconceito, principalmente quando ela tem mais idade do que ele.

A chegada de empresas como a Rio do Tempo, do Francisco Ramos, é o primeiro e oxalá decisivo passo para mudar e superar essas bobagens. Porque cria um formalismo, pela existência de uma figura jurídica; passa a imagem de estrutura organizada; estabelece o pressuposto de normas éticas que devem reger o comportamento tanto de quem contrata como de quem é contratado, sem nenhum prejuízo da descontração e da informalidade indispensáveis ao bom baile.

E vamos mais além: as academias de dança de salão deveriam criar serviços de personal dancer, com atendimento personalizado. A casa dançante A, por exemplo, contrataria os serviços ou trabalharia em parceria com a academia Z. Pediria quantos dançarinos desejasse e teria a segurança de contar com pessoas realmente qualificadas, em todos os sentidos, do saber dançar e do critério da roupa ao conhecimento do essencial na etiqueta social.

Esse fato novo cria também novas necessidades e sugere nichos inéditos no mercado de trabalho. Exemplo: cursos de formação de personal dancers, buscando o refinamento do serviço, com currículos que contemplem os mais variados aspectos, até mesmo comunicação com estrangeiros para quem não fala uma segunda língua, para evitar situações ridículas.

Com isso as academias poderiam atrair pessoas de ambos os sexos que não desejam aulas de dança, mas querem ter parceiros ou parceiras. Ela vai lá e se matricula no departamento de personal dancer, para ter com quem dançar nos bailes, sem necessidade de freqüentar aulas. Digamos, por hipótese, para três bailes mensais, ou para o número de bailes que esteja disposta a pagar. Não é interessante?

A academia pode criar também pacotes – só aulas – ou aulas+personal dancer, com preços específicos. Ou, ainda, oferecer de brinde um ou dois bailes por mês com a equipe personal. As variáveis são infinitas, basta colocar a imaginação a funcionar.

Esse potencial novo cliente, na convivência com a escola, pode até se converter num futuro aluno. Mas o principal é quebrar a mesmice da eterna aula, aula, aula. A escola cresce para o conceito de usina de danças, equipada com turbinas de alta qualidade que são seus professores e monitores, oferecendo opções novas e originais, agregando um novo público e abrindo seus horizontes para dias mais animadores. 

 assine nosso boletim gratuitamente
Imprima esta matéria

 

 

Produzido e  administrado pela  Page Free Design - 2003