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Editorial edição 77

 

Milton Saldanha

Ano novo como no ano velho

Se 2002 for tão intenso para a dança, como foi 2001, já estará bom demais. Em todos os segmentos, neste ano que agora termina, tivemos avanços significativos, além de fatos realmente marcantes. E mais: aquele velho hábito de se achar que as coisas importantes só acontecem no eixo São Paulo-Rio ficou definitivamente sepultado. A dança hoje acontece em todo o País, com eventos de porte e também de boa qualidade nos mais diferentes Estados e em Brasília, alguns buscando consolidação e tradição, outros inéditos e prometedores de apreciáveis reedições.

Ao longo de minha carreira como jornalista nunca fui muito apreciador das retrospectivas de final de ano, muito menos daquelas matérias idiotas que se repetem há décadas. Certa vez isso quase me custou o emprego na chefia de reportagem do jornalismo da TV Globo, em São Paulo. De plantão na redação, numa virada de ano, dei de ombros para o nascimento do primeiro bebê do novo ano e não mandei cobrir. Continuo achando e repito que isso é uma matéria idiota, além de esgotada pela repetição, mas meus chefes não pensavam assim. O tema zumbia nos seus neurônios. Trataram a omissão como se fosse um furo grave... Mas acabei saindo de lá bem depois, a convite para trabalhar no Departamento de Imprensa da Ford.

Então, se entro na contramão dos meus próprios conceitos e critérios e faço desta uma edição retrospectiva, ou quase, é porque realmente acredito que 2001 merece isso. Foi um ano muito produtivo para todos nós que mexemos com dança, seja nos palcos, nas pistas, nas coxias, nas cabines de som, nas mesas de iluminação, no trabalho jornalístico, ou mesmo na sedutora solidão dos processos criativos.

Merece especial menção a campanha, em todo o Brasil, dos bailarinos e bailarinas que se insurgiram contra o Confef – Conselho Federal de Educação Física, que pretendia atrelar a dança ao seu comando. A resistência foi notável e maciça. Apenas alguns estrelões, jurados profissionais de festivais, se omitiram. Não quiseram sequer dar declarações ao Dance. Foi bom para saber quem pensa na categoria e quem pensa só na próprio bolso e na vaidade. Aqui nesta páginas tão cedo eles não entram. O Confef foi derrotado e este jornal teve sua parcela de contribuição nisso, com capas, editoriais e a ampla cobertura do Condança – Congresso Brasileiro de Dança, em Porto Alegre. Esse tipo de combatividade, jamais irresponsável, sempre foi e continuará nossa tônica.

O balanço do ano é muito positivo, como foi dito também no texto aí da capa. Fizemos nossa parte, com muita garra e muita consciência profissional, pré-requisitos indispensáveis para um jornalismo independente e construtivo, como é a missão deste jornal. E sobretudo honesto, sem matérias pagas, com tiragens (número de exemplares) reais e ampla distribuição. Nessa linha, o ano novo para nós será como o ano velho, tenham certeza. 

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