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 Um salseiro em busca da fama internacional

Rubem Mauro Machado

Ele não deixa por menos:

- Quero ser campeão mundial de salsa.

O carioca mais afro-caribenho do mundo está desembarcando em São Paulo e não por acaso: a salsa explode em todo o mundo e Rogério Mendonza (originalmente Mendonça, a adaptação foi por dois motivos, "para dar sorte", e também para facilitar a sua inserção no mercado latino), chega com sua partner, Sarah Palhares, para dar oficinas do ritmo do momento no Centro de Danças Andrei Udiloff, de 7 a 11 de julho, para profissionais e amadores, e pretende repetir a dose ao longo do mês de agosto, uma vez por semana.

Aos 29 anos, Rogério, que para se tornar dançarino teve de fugir de casa e enfrentar a fúria do pai, já tem uma longa trajetória, nacional e internacional. Tudo começou quando, entre os 10 e os 15 anos, ia passar os fins de semana com a mãe (os pais separados desde que ele tinha quatro anos) e ela o levava para os tradicionais bailes de domingo do Clube Sírio Libanês. Tímido, o menino ficava olhando os casais de dançarinos com interesse mas sem particular entusiasmo. Ele tinha outros planos: ser modelo e músico. Toca violão desde os oito anos e chegou a se apresentar em shows. O pai, um comerciante muito bem situado na vida, morador da Barra da Tijuca, não gostava dessas idéias. Quando aos 13 anos Rogério botou brinco – hoje ele usa quatro mas já chegou a usar seis nas orelhas – expulsou o filho de casa. Para poder voltar, o menino teve de tirar os brincos, que só usava no fim de semana, quando ia para a casa da mãe.

O estalo aconteceu quando, em 1989, aos 15 anos, no auge da lambada, foi assistir a um show do cantor Beto Barbosa no Canecão. No palco apresentavam-se três casais de dançarinos, sendo um deles formado por Jaime Arôxa e Patrícia. Rogério ficou fascinado. Casualmente, o Colégio Anglo-Americano Barra, onde estudava, organizou um concurso de lambada. Rogério resolveu concorrer. Convidou uma colega chamada Vivian e fizeram algumas aulas com uma amiga da mãe, chamada Bete. A competição foi no clube Riviera, da Barra, e adivinhem quem venceu?

O pequeno troféu, que Rogério guarda até hoje, foi decisivo para convencê-lo: ia ser dançarino. O pai, que achava isso "coisa de vagabundo e de viado", o proibiu. Rogério não teve dúvidas. Arrumou suas coisas, esperou o pai sair para trabalhar e se mandou para a casa da mãe, depois de avisá-la. Quando lá chegou, o pai, alertado, já estava à sua espera. Chorando ele pediu ao filho que não o deixasse, mas Rogério foi irredutível:

- Quero a minha liberdade.

Matriculou-se na academia de Jaime Arôxa e, pouco mais de uma mês depois, já era assistente. Passou a integrar o corpo de dança da companhia.

- Considero Jaime o melhor professor de dança do mundo – diz categórico.

Em 1991, no entanto, desentendeu-se com o mestre e foi trabalhar com Carlinhos de Jesus e posteriormente com João Carlos Ramos, ocasião em que fez par com Janaina Diniz, então sua namorada. Em 1993 Jaime o chamou de volta e Rogério destacou-se num grupo que também tinha, entre outros, Adílio e Celso Vieira. Já profissionalizado, terminou o segundo grau e vivia de cachês de apresentações. Continuava a morar com a mãe, Dayse, que chegou a ser empresária de Jaime.

Em 1993 Rogério fez sua primeira viagem internacional, para a Costa Rica. Foi, em companhia de Jaime, estudar os ritmos e danças regionais e apaixonou-se definitivamente pela salsa. Nessa ocasião aconteceu uma história engraçada, que ainda hoje o faz rir:

- Na Costa Rica existem muito mais homens do que mulheres. Certa noite fomos a um baile de salsa, com uma orquestra maravilhosa, e ficamos desesperados para dançar. Só que todas as disputadíssimas mulheres que tirávamos nos diziam não. Não conseguimos dançar uma única música e, desapontados, acabamos indo para o cassino jogar.

Em janeiro de 1994, Jaime abriu em Recife uma filial de sua academia, em sociedade com Andréia Carvalho, e mandou Rogério para lá.

- Foi um êxito espetacular, ninguém esperava. Matricularam-se 500 alunos e só havia três pessoas para dar aula, eu, o bailarino Pedro Costa e a Andréia.

Rogério estava feliz em Recife mas quatro meses depois Jaime o chamou, para voltar a integrar a companhia, onde teve como parceiras Karina Sabbah e Briane Sommer (que foi sua noiva). Em 1994 o espetáculo Salão Brasil, no Teatro João Caetano, fez enorme sucesso:

- Em conseqüência, o número de alunos da academia aumentou de um dia para outro de mil para 1.600.

Rogério participou de apresentações pelo Brasil e por todo o mundo, em numerosas viagens à Europa (só à França foram três vezes) e aos Estados Unidos. Com a parceira e então namorada Daniela Escudero esteve no Japão.

- Os japoneses são extremamente carinhosos. Eu os considero o melhor público do mundo. O pior é o público de churrascaria, em qualquer parte.

A rotina dos dançarinos embora agradável não era fácil. O dia dos oito casais começava na verdade ao meia dia, com um laboratório com Jaime. Das 14 às 16 horas tinham aula de balé. Das 16 às 18 ensaiavam as coreografias da companhia; e das 18 até a meia-noite davam aula. Tinham aprendizado de todo tipo de dança, de contemporâneo e jazz a afro e sapateado, sem falar em balé e expressão corporal, sempre com grandes nomes especialmente contratados, como Vera Lopes, Ana Kfouri, Jean Marie Dubru, Charles Nelson, Marta Omega e Lu Spninelli.

A partir de 1996 Rogério decidiu seguir por conta própria. Trabalhou com artistas como Elymar Santos, Tania Alves e Negritude Júnior, para citar alguns, e foi dançarino do programa Milk Shake, com Angélica, na TV Globo. Abriu e fechou ao longo de seis anos três academias na Barra da Tijuca. Ele gosta de dar aulas e chegou a ter 500 alunos mas detesta a parte administrativa e foi lesado por sócios desonestos. Também se sentia muito preso, sem tempo para fazer o que mais gosta, dançar e viajar. Hoje dá aulas em diferentes estúdios e faz laboratórios e apresentações pelo Brasil e exterior, com a parceira e atual namorada, a graciosa e talentosa Sarah Palhares, de 22 anos. Envolve-se no projeto de um vídeo didático de salsa, para comemorar no ano que vem 30 anos de idade, 15 de carreira e 10 de salsa. Considera que a dança de salão, pelo menos no Rio, vive um momento de refluxo:

- Não há mais bons bailes. Quase não há bailes de salsa, ainda que em São Paulo se possa dançar salsa diariamente.

Mas isso não o desanima. Pai de Samara, de dois anos, que teve com Renata Barcelos, Rogério diz que está ficando menos namorador e mais sereno. E espelhado no exemplo de Alexis da Silva, brasileiro residente em Los Angeles e considerado o melhor dançarino de salsa do mundo, garante:

- Eu ainda vou ser campeão do circuito mundial de salsa.

Quem já o viu dançar não duvida.

Milton Saldanha Jornalista

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