Editorial edição 91 

Milton Saldanha

Dança & Cia fechou. É uma pena.

A  jornalista Daniele Monteiro tomou a decisão de parar sua revista. 

Isso abre uma lacuna na área de  informação do balé.

 A jornalista Daniele Monteiro lutou, lutou... E cansou. Mês passado decidiu fechar sua revista "Dança & Cia", tantas vezes divulgada nas "Dicas de Leitura" do jornal Dance. Fui testemunha do tremendo esforço que a Daniele fez para dar ao meio de dança uma publicação de qualidade. Investiu muito, correndo riscos, e batalhou em festivais de balé, montando estandes. Infelizmente, o mundo dos negócios é glacial. Contabilidade e sensibilidade são palavras que rimam, mas não combinam. Parece que a primeira sempre exclui a segunda. Alguns potenciais anunciantes só pensam no resultado imediato, não na perspectiva, no horizonte distante. Investimento publicitário não é mágica. Requer sustentação, na linguagem técnica, que significa repetição contínua, para se alojar e ficar no subconsciente do consumidor de produto ou usuário de serviço. É isso que faz a pessoa lembrar da marca na hora da compra. O pior é que determinados empresários têm grande dificuldade de entender e distinguir o que é um trabalho sério, profissional, do que é medíocre e amador. Quem troca um bom livro pelo Big Brother terá sempre essa e outras dificuldades mentais.

"Dança & Cia" era bimestral. Foi achando com certa rapidez seu caminho, firmando sua personalidade, ganhando robustez e maturidade. Em pouco tempo já era uma revista de qualidade, com variado material editorial, bons assuntos, colaboradores famosos na dança, bem ilustrada, e no mesmo formato e papel das grandes revistas semanais brasileiras.

Ao contrário do Dance, que é jornal e tem na dança de salão seu principal foco, mas fala também de outras modalidades, a revista "Dança & Cia" buscava o público das demais modalidades, principalmente balé, mas sempre respeitando e dedicando algum espaço para a dança de salão. Nunca consegui ver isso como concorrência e sim como apoio, trabalho alinhado nas mesmas causas, bom para a dança e para o jornalismo especializado. O que incomoda, porque queima o mercado, é a publicação ruim, picareta, sem talento, cheia de erros técnicos e de linguagem, que vende matérias e mente criminosamente sobre a tiragem (número de exemplares), cometendo estelionato.

Ninguém melhor do que este escriba para entender a desolação que se apossou da Daniele. É duro, realmente muito duro, manter-se no mercado editorial, principalmente no caso dela, pois se os custos de um jornal são altos, numa revista eles triplicam. A inadimplência de anunciantes irresponsáveis, para não usar termo mais duro, tornam as coisas ainda mais complicadas. É uma grande sacanagem contra quem trabalha honestamente e confia nas pessoas.

Fica documentada aqui a solidariedade do Dance, e do seu editor, à jornalista (realmente profissional) Daniele Monteiro. Volte algum dia. A dança precisa de pessoas como você.

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