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A doce arte da conquista

(21 dicas para suas reflexões) Dance Nº 44 - Novembro / 1998

Quem não gosta de conquistar e de ser conquistado? Esta é a terceira matéria que o jornal publica sobre o inesgotável tema, atendendo a pedidos ( agora na internet ). Os conceitos aqui emitidos são para todos os sexos. Quem quiser acatar não se arrependerá, com certeza. Mas quem preferir continuar pisando na bola tem todo o direito. A escolha é de cada um. E, como não poderia deixar de ser, nossas dicas enfocam principalmente comportamento em salões de dança

   Vamos começar pela higiene pessoal: asseio é indissociável das relações humanas. Se o banho já está vencido não dance, nem em aula de academia.

   Não existe nada mais insuportável. Desodorante, talco, um discreto perfume ou loção entram como complementos ideais. Cuidado com roupas usadas, externas e íntimas. Você próprio não percebe, mas elas guardam odores. Leve sempre trocas.

Cuidado também com hálito. Alguns deixam gambá com inveja. Como não há outro jeito de saber, peça para pessoas da sua intimidade abrirem o jogo sobre seu hálito. Mas mesmo que sua boca esteja fora do grupo de risco, não descuide. Qualquer drogaria vende refrescantes bucais e fios dentais. Escove também a língua, que segundo especialistas é responsável pela maior  parte dos casos. O período ideal para escovação é em até 10 minutos após a alimentação, sempre usando fio para acessar pontos que a escova não alcança. Gomas de mascar renovam a saliva e  ajudam a contornar o problema. Evite ficar muitas horas sem ingerir alimentos. Se for o caso, não hesite em consultar um especialista para tratamento. 
   Nem que tenha de roubar do cemitério, valorize  o secular hábito de levar flores para a pessoa amada. As novas gerações desconhecem os milagres que essa gentileza opera. É bonito, romântico, encantador. E não é só do homem  para mulher. Eles também gostam de receber flores. Poucas sabem disso.
Por falar  em hálito, depois de fumar ou beber sempre enxague a boca. Bafo de álcool e/ou de nicotina é duro de aguentar, mesmo para fumantes e bebuns. Uma pastilha ou balinha de hortelã faz milagres.
  Hoje os sistemas de alarme  atrapalham um pouco, mas se possível sempre abra a porta do carro para ela. Vale a pena entrar, desativar o alarme, e voltar para abrir a porta. É um detalhe cativante, típico das pessoas finas. Ela, por sua vez, já lá dentro, deve imediatamente conferir se a porta dele já está destravada. Os marmanjos perdem pontos quando ignoram pequenos gestos como este e deixam  a moça sozinha na calçada.

   Convidar para um jantar pode ser manjado, mas será sempre gostoso e cativante. Escolha um restaurante aconchegante, com velas ou abajures nas mesas, e pista de dança. Se tiver piano e violino é perfeito. Coma e beba com moderação, uma demonstração de classe. A conta será salgada, mas nestes casos nem pense em  dividir. Em tempo: use traje social completo, escuro. Se a iniciativa for dela, que vá vestida para matar...

   O resto só Deus sabe.

   Nas conversas, fuja das frivolidades e não queira impressionar. Frases do tipo "estou pensando em trocar de carro", ou "assumi tal gerência" só vão mostrar como você é bobo e inseguro. Fale de suas experiências de vida realmente valiosas, mas principalmente identifique e se concentre nos assuntos que interessam ao outro. Saiba ouvir, não faça monólogo.
  A primeira sinalização na paquera, todo mundo sabe, é o olho no olho. Um sorriso suave, espontâneo, o sinal verde. Mas vá  com calma, não estrague tudo com gracinhas tolas. Piadinha ruim e forçada é dose. Mas  também não precisa agir como se estivesse num baile de freiras. Sugestão: apenas pense antes de dizer qualquer coisa e seja natural. O simpático de plantão é um grande chato.

   Transforme suas horas boas em exclusivas. Dê folga para o celular e tire da mente qualquer tipo de preocupação. Restaure-se por  inteiro
   Tirar uma pessoa que mal conheceu para dançar e já partir para o amasso é a suprema demonstração de incompetência na parte da  conquista. Para esses casos não existem receitas prontas. Tudo tem sua hora e compete exclusivamente a você sacar quando chegou a sua. Avançar o sinal no momento errado estraga tudo. Mas também não vacile, como ensinaria o surfista, porque um belo dia de mar perdido nunca mais se recupera.
   Se os dois querem e gostam, nada de errado dançar agarradinho. Aproveitem! Mas pensem bem antes de partir do baile para um motel ou para  a  casa de um de vocês. Aí a  história é outra. Acima de qualquer moralismo hipócrita existe uma questão séria a ser considerada: a Aids. Boa aparência não significa absolutamente nada. Aliás, é nestes  casos que o pessoal se ferra. Camisinha ajuda mas não é 100% seguro. Seguro mesmo é se  conhecer melhor e só transar depois da troca de exames atualizados de HIV. Exagero? Exagero é morrer de forma tão estúpida
   Discordando de Vinicius de Moraes, beleza não é fundamental. Mas saber pensar é. Todas as  pessoas , belas ou não, devem preservar sua vaidade, a boa forma física, o que já é ótimo. Os desleixados com o próprio corpo estarão sempre em desvantagem no mercado amoroso e disso não poderão culpar ninguém, a não ser a  si próprios. Mas burrice é insuportável. Não é tão complicado procurar saber o que está acontecendo no país e no mundo; exercitar o raciocínio, analisando os fatos; ter postura crítica; buscar respostas em temas interessantes e cruciais. Se possível, aprender uma segunda língua. Ver bons filmes. Trocar programas inúteis da TV pelos educativos ou de preferência desligar e ler um bom livro, jornais ou uma boa revista. Quem levar a  sério vai evoluir e no primeiro mês já sentira a diferença.
 Há dançarinos maravilhosos, elegantes, bonitos. Pena é quando abrem a boca. Nada se aproveitou. Alguns sequer sabem fazer uma concordância correta, desconhecem o plural e os tempos verbais mais elementares. É trágico ouvi-los. Onde  uma pessoa assim pode pretender chegar? Como daria uma entrevista ? Como ousaria falar em público? Como poderia conversar sobre arte? Existem três remédios para esse mal: leitura, leitura e mais leitura. A  relação disso com a conquista é direta: ninguém aguenta gente de cérebro curo. Exceto se for pior ainda.
   A Cantada é um bem  necessário. Tonifica a alma, carrega um instinto de busca e de luta por algo que se quer, afia a língua, o senso do improviso, a competência verbal. Sem ela, sinceramente, perde a graça      
   Se cantar é uma excitante exploração por águas nunca d'antes navegadas, ser cantada, ou cantado, um doce afago no ego, que faz bem , sim. Tudo depende apenas como se toca este instrumento, sem desafinar
   Semancol, infelizmente, não é vendido em farmácias. Há pessoas que  confundem um convite para dançar e um  palavra gentil com outras coisas. Já se acham as tais, irresistíveis. É ridículo. Preserve sua imagem sendo sempre cauteloso ( ou cautelosa ) em, qualquer situação.
   Há muitas formas de cantar. Diga-se de passagem que grosseria não e cantada. É apenas grosseria mesmo. Cantada é aquela palavra , ou  gesto , sutil e encantador, que longe de provocar revolta, parecer um insulto, é algo lisonjeiro e bem-humorado, que merece ser tratado com o devido carinho, mesmo que a resposta seja "não".
   Cantar alguém é antes  de tudo um desafio e  uma arte. E, como toda arte, exige inspiração ( A transpiração vem  depois ) . Toda cautela é pouca. Uma palavra errada põe tudo a  perder. São conhecidos  os episódios de salão em que o sujeito, habilidoso como um hipopótamo dançando balé, chega  e propõe à desprotegida donzela "vamos para um motel? Conheço um ótimo aqui perto". A não ser que ela tenha ido lá também para isso, todo mundo sabe o desfecho. 
   Resistir à cantada é um charme com medida certa. Não pode ser frágil a ponto de parecer banal. Nem pode ser forte a ponto  de parecer  desencorajador.
   Acreditem, esses tipos existem. São aqueles que geralmente não dançam, só ficam apoiados no balcão do bar, estudando a safra. Quando tocam uma seleção lenta saem  para o ataque, supostamente protegidos pela facilidade do ritmo, do escurinho, da pista  cheia. Nada a ver com os  verdadeiros dançarinos da noite.

Texto Milton Saldanha  /  Desenhos Pedro Machado

 

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