Ano I - Nº 03 - Abril de 1997
Ritmos
BOLERO
"Frio en el alma porque no estás conmigo..." canta Gregório Barros em um dos mais antigos boleros.
Quem nunca passou por isso, atire a primeira pedra. Muitos anos depois, João Bosco, sem encontrar novas palavras, havia de dizer: "sentindo um frio em minha alma, te convidei prá dançar.." O quê mesmo? "... Dois prá lá, dois prá cá".
O bolero fala as verdades do amor. E se você é um desses que diz que não gosta, prepare-se, porque mais dia menos dia o seu bolero chegará. Ele está visceralmente ligado à nossa alma latina.
Briga musical
Neste ano a cantora Dalva de Oliveira completada 80 anos e, oportunamente, a gravadora "EMI" vai lançar no mercado um luxuoso álbum com quatro CDs. Este trabalho faz parte de um projeto de recuperação do acervo da música popular Brasil era e tem o apoio da Cia. Siderúrgica Nacional. Já era tempo! Dona de uma voz Lindíssima, Dalva era casada com o compositor Herivelto Martins e, ambos, protagonizaram a maior briga musical entre marido e mulher. Ela cantava "Errei sim", "Tudo acabado", "Que será", enquanto ele compunha "Consulta o teu travesseiro", "Segredo" e "Perdoar", boleros e sambas-canções incorporados ao repertório dos nossos maiores intérpretes atuais.
O bolero nasceu em Cuba, no século passado. O primeiro foi composto pelo trovador Pepe Sanchez e se chamou "Tristezas". O auge se deu nos anos 45 a 55, divulgado pelas estações de rádio cubanas e mexicanas, definindo-se como ritmo e como dança. Permanece até os nossos dias com suas letras sentimentais, com seu ritmo suave e sensual, cumprindo duas funções: comunicar e seduzir.
Ao dançá-lo, os bailarinos deverão estar bem próximos um do outro, como se constituíssem uma unidade. Se o homem movimenta a perna esquerda, a mulher deverá movimentar a direita, como se fosse o seu espelho. Com os braços e o próprio corpo, o homem indica à mulher a sua direção. Nunca deverão se mostrar indiferentes, olhares perdidos no espaço ou voltados para o chão. Devem-se lembrar sempre que o bolero promete a eternidade e o encontro entre os dois. Não saiam também ignorando o ritmo, ou andando para um lado e para o outro como se estivessem fazendo um "cooper" Muito menos homem deve jogar a mulher de um lado para o outro, como se fosse um objeto. Os giros deverão ser suaves, as caminhadas sempre de mãos
dadas, como se faz ao namorar. Onde um for, o outro deverá estar por perto, nunca permanecendo muito tempo distantes.
Acertar o passo exige que você ouça a música e perceba que o acento forte se dá a cada quatro pulsações rítmicas, alternando passos rápidos e passos lentos. Dificuldades são vencidas facilmente em aulas de dança.
Em tempo: o bolero não é muito conhecido na Europa. Se um dia você estiver por lá e sentir saudades, peça uma rumba lenta...
Outro bolero
Tratamos do bolero cubano, que não deve ser confundido com o gênero espanhol, cuja expoente máximo é o "Bolero de Ravel". Não há quem não o conheça e busque nele inspiração.
Um exemplo disto está na Paraíba, que é o primeiro lugar das Américas onde nasce o sol, isto é, o sol nasce para todos, mas, para quem vive na Paraíba, ele nasce primeiro.
Como é difícil acordar cedo, os paraibanos reverenciam o fato ao pôr-do-sol. Os bares da praia do Jacaré ficam lotados e todas as pessoas permanecem em silêncio na despedida do astro-rei, embaladas pelo "Bolero de Ravel", que serve de fundo diariamente para um show inesquecível.
Carlinhos Antunes já antecede: "Ravel há de nos perdoar por tamanha heresia... " mas, com perdão e tudo, no
disco "Paisagem Bailarina", o "Bolero de Ravel" ganha o timbre da viola caipira.
Maurice Béjart
O balé de Maurice Béjart, o coreógrafo francês que marcou a dança desse século, se apresentará nos dias 25 e 26 de abril, no Minascentro, em dois programas que retratam as fases mais importantes de sua criação: "L'Art du Pas de Deux" e "Pássaro de Fogo".
Porém, Béjart acabou de lançar em Paris um nova espetáculo - homenagem ao cantor Fred Mercury e ao bailarino Jorge Donn, este último célebre intérprete do "Bolero de Ravel" no filme "Retratos da Vida". Ambos os homenageados morreram aos 45 anos vítimas da AIDS. O nova trabalho de Béjart traz músicas do "Queen" (grupo de rock inglés) e Mozart, figurinos de Versace e se chama: "Le Presbytre n'a Rien Perdue de Son Charme, Ni le Jardin de Son Éclat".
EXPEDIENTE