Jornal Dance - Av. Club
REPORTAGEM DE CAPA
Abril/1997
Avenida Club. Pura energia!
Nunca foi casa da moda. E faz tudo
para não ser, como confirma seu principal proprietário,
o low profile Telmo Cortes de Carvalho e Silva, que circula por
lá como se fosse um cliente qualquer, avesso que é a
badalações e entrevistas.
Jamais ser casa da moda talvez explique, em parte, os
dez anos de sucesso do Avenida Club, ancorado numa esquina da rua
Pedroso de Moraes, em Pinheiros, nos limites do bairro intelectual
paulistano, a Vila Madalena. A conclusão todo mundo sabe, as
casas da moda só duram o tempo da moda.
Os dez anos foram completados em 96 e quem ganhou o
presente, agora, foi a comunidade de dançarinos de
salão: um Avenida totalmente remodelado, com cara nova,
envidraçada, com dez metros de altura, num estilo concebido
pelo arquiteto Pedro Taddei que remete a um típico "club"dos
anos 50. Essa falsa antigüidade é mesmo só
decorativa, sobretudo pela presença heterogênea do
público, formado por pessoas de todas as raças e das
mais variadas idades a partir dos 20/25 anos, numa
integração rara, porque quase nunca jovens, medianos e
maduros se suportam dividindo a mesma pista. Isso torna
difícil dizer com quem o Avenida concorre, quando se toma o
tipo de público como referência. O mais próximo,
com certeza, é a danceteria Zais, na Vila Mariana, onde essa
integração é igualmente nítida. Nos
bailes tradicionais as faixas etárias são acima dos 40
anos e nos redutos jovens elas geralmente não chegam aos 20.
Conclusão: Avenida e Zais conseguem a proeza de mesclar o
"imesclável", estabelecendo uma democracia dançante das
mais amplas, sobretudo quanto ao padrão social dos seus
frequentadores, das variadas faixas da classe média.
Para os fiéis de carteirinha, que só
faltam afixar placas de propriedade com seus nomes nas mesas e
cadeiras, ocupando todas as semanas sempas de propriedade com seus
nomes nas mesas e cadeiras, ocupando todas as semanas sempre os
mesmos lugares, a intimidade é tanta que ninguém vai
embora sem abraçar e fazer afagos em Jovino Garcia, como se
fosse uma gafe sair sem despedir-se do dono da casa. Onde mais se
vê isso?
Jovino, um dos sócios, com 49 anos de idade e 31
no ramo, que já gerenciou casas como O Jogral (ligada à
História da MPB), Aquarius, Ópera Cabaré,
Palace, entre outras, curte seu carisma num estilo discreto:
não sobe no palco, fica longe do microfone, não faz
gênero de atarefado, não força a barra. Conquista
o público apenas com seu jeito simples e paciência de
pescador, sua paixão, instalado num ponto estratégico
da casa, com visão panorâmica, e de onde, atento a tudo,
de vez em quando sinaliza instruções para o DJ Roberto
Rosa e para o maitre Pedro Valério. Tempos atrás foi
trabalhar no Carioca Club, uma das casas do grupo, formado
também pelo Blen Blen e pelas choperias Continental. Mas
não aguentava e sempre dava uma fugida até o Avenida.
Acabou voltando de vez.
Explosão
Dance costuma fazer "tours" noturnos pelos mais
variados lugares onde se dança na Grande São Paulo.
Recentemente, num daqueles feriados prolongados, em que a cidade fica
vazia, chovia e fazia frio. Depois de rodar por meia dúzia de
lugares que variavam entre médios e vazios, chegou a vez do
Avenida. Surpresa, ou nem tanto: estava lotado, explodindo,
transbordando energia. Aquele astral que contagia, envolve,
emociona... e dá uma vontade louca de dançar.
Isso não significa que o Avenida não tenha
experimentado fracassos. Já teve baile com 40 ou 60 pessoas,
um deles em pleno Dia dos Namorados, quando toda lógica
indicava o sucesso. A explicação soube-se no dia
seguinte: todos os motéis estiveram lotados. Mas casos assim
são raros, o público sabe disso, e os concorrentes
reconhecem. A frequência média é de quatro mil
pessoas por semana. Mas as quartas-feiras, em que tinham que fechar
as portas em certo horário, porque não havia como
colocar mais gente lá dentro, já não são
como antes. Houve declínio de público, acompanhando
tendência geral da noite paulistana. Neste caso
específico, há quem atribua isso também a um
certo esgotamento da fórmula Heartbreakers, excelente banda,
mas que acaba sofrendo o desgaste da exposição
excessiva.
Mas qual é, afinal, o segredo da casa cheia? Quem
tivesse a resposta não diria, abriria uma casa de
danças. As preferências do público são
tão imprevisíveis e incontroláveis quanto a
chuva ou o sol na próxima semana. Existem até lugares
ruins, que desprezam as pessoas, fazendo sucesso. Alguns dados,a.
Existem até lugares ruins, que desprezam as pessoas, fazendo
sucesso. Alguns dados, contudo, no caso do Avenida, permitem
conclusões: variação de bandas e estilos
musicais na maior parte dos dias, agregando públicos de gostos
e perfís diferentes; dimensões que sugerem certo
aconchego; funcionários estáveis, que passam a conhecer
e a se relacionar com as pessoas; a participação de
sócios conhecidos e bem relacionados, como os jornalistas
Paulo Markum e Marcelo Bairão e, principalmente,
tradição consolidada, porque a casa abriu numa
época em que estavam escassas as opções para
dançar a dois, de rostinho colado, como se dizia, além
de incorporar um nome conhecido, o do célebre Avenida
Danças, que já foi tema de ampla matéria neste
jornal.
Episódio testemunhado por Dance ilustra
bem como o Avenida se relaciona com o público: num determinado
baile apareceu um grupo de moças de fora da órbita dos
clientes habituais. Não gostaram da casa, do baile, ou sabe-se
lá do que. Estavam num mau humor danado. Na maioria dos
lugares ninguém daria a menor bola àquelas chatas.
Pois, Jovino Garcia acompanhou a intempestiva saída da
turminha e, sem pensar um segundo, para surpresa geral, com a maior
classe, devolveu o dinheiro dos ingressos. Moral da história:
se não fez amigas, no mínimo livrou-se de fazer
inimigas, porque a propaganda contra é altamente danosa. E nem
por isso a casa quebrou.
Outro exemplo, o mais recente, foi a festa de
reinauguração, dia 17 de março, com duas mil
pessoas convidadas e comparecimento de 1300, com a Orchestra
Heartbrakers e Banda Coisa nossa, chope e salgadinhos à
vontade, tudo de graça. "Repercutiu na mídia e
reforçamos nossa visibilidade", disse Marcelo Bairão.
O que melhorou
A reforma permitiu que o Avenida superasse
vários problemas de suas instalações. Um deles
era o padrão dos banheiros. Agora são em maior
número, claros, bem equipado o padrão dos banheiros.
Agora são em maior número, claros, bem equipados, com
acesso também para deficientes físicos. A pista de
dança teve seu piso de tábuas corridas trocado. Os
camarins foram ampliados, ganharam novos banheiros e ar condicionado.
A choperia, na entrada, com capacidade para 200 pessoas, preservou a
banca de jornais, revistas e CDs, além da charutaria. Pode ser
freqüentada por quem já está no baile ou deseja
ficar só por ali e conta com espaço que pode ser
utilizado para eventos culturais, como lançamentos de livros e
CDs. A decoração do bar procurou explorar o
espaço com pé direito de 8 metros. As paredes
são em tom verde pastel, o piso de parquet, mesas em marfim e
mogno, havendo ainda um grande painel em tom sépia com motivos
musicais. Em anexo, um pequeno palco elevado, para shows de
música ao vivo. Para curtir uma sessão de jazz é
uma delícia.
No salão foram substituídos os sistemas
de iluminação e de som, com 9.100 watts RMS. As paredes
laterais ganharam pintura mais clara e a área de cadeiras
carpete cor vinho. Arrematando tudo, novo tratamento acústico.
A reforma do Avenida Club durou meses, mas mesmo com
os tapumes e as tradicionais plaquinhas com pedidos de desculpa pelo
transtorno, o público não se afastou de lá.
Ajudou, portanto, a pagar as contas das obras. Meu de lá.
Ajudou, portanto, a pagar as contas das obras. Merece o que ganhou. O
pós-reforma já significa para a casa, em pouco tempo,
incremento de público de cerca de 30%. Ou seja, mais 30% de
pura energia!
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