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Jornal DAA Mundo da dança - 53

O MUNDO DA DANÇA


MEXICO E CUBA NUM DUETO

 

As co-produções têm sido um caminho evolutivo promissor no panorama da dança contemporânea das duas últimas décadas, antes do advento dos elencos deliberadamente cosmopolitas que habitam hoje os teatros da metade do planeta.

O encontro de interesses artísticos, o cruzamento de estéticas por choque ou por fusão, é um caminho possível de obtenção de novas configurações e de novos sabores; uma estratégia de abertura e de renovação.

O coreógrafo e bailarino sonorense Aldo Siles aposta neste meio de criação com sua última obra "Interiores", montada em Holguin (Cuba) com bailarinos da companhia Codanza, dirigida por Maricel Godoy, e estreada no marco de "Entre Fronteras" X Encontro Internacional de Dança em Mexicali.

"Interiores" é uma obra inscrita na estética da aurora dos anos 90, uma peça de estrutura formal simples, legível e de aceitável confecção.

Sobre músicas de Gorecki, Bach, Vangelis e Michael Stearn, Siles traça um itinerário cênico coerente, mapeado com claridade e de material coreográfico bem disposto.

Com apenas quatro intérpretes (entre os quais ele se encontra) Aldo Siles distribui climas, espaços e relações de modo orgânico, iniciando a peça com uma passiva caminhada que é interrompida por sucessivas entradas e saídas que se transformam em solos e duos para culminar num quarteto que nos leva novamente à caminhada inicial transformada pela ação precedente. Tudo em andamento dinâmico e numa linguagem muito dos noventa, aonde caídas, seqüências de chão e contra-pontos formais, costuram a ação com bastante eficácia.

A região de Sonora, que tem dado ao México coreógrafos do porte de Adriana Castaños e Miguel Mancillas, tem em Aldo Siles outro filho da pós-modernidade do deserto. Um adepto deste modo "sonorense" de coreografar. Assim como podemos focalizar a dança contemporânea californiana no panorama coreográfico norte-americano e a dança "mineira" no panorama coreográfico brasileiro; podemos também pinçar a dança sonorense na paisagem coreográfica mexicana. E isto é muito importante pois nos remete a um modo de dizer com suas particularidades e suas raízes; o que em nestes tempos de "dança global" não é nada comum.

"Interiores" peca apenas de uma certa ingenuidade a nível de concepção que é acentuada pela maneira que é interpretada.

Sem dúvida, os integrantes de Codança são bailarinos dotados, de grande flexibilidade, boas condições técnicas e notório insight nos desafios corporais. Tanto Nalia Escalora como Karel Marrero e Lisbeth Saad são bailarinos promissores, de personalidade física maleável, boa matéria prima, a qual falta elaboração para ganhar eloquência.

Esta elaboração poderia começar com o trabalho de braços (que deixa muito a desejar), de riqueza dinâmico-musical e em definitiva interpretação, o que se nota, por exemplo, no modo declaradamente imaturo que dão ao bom texto de Dulce Maria Laynaz.

Aldo Siles que como bailarino não tem as condições físicas e preparo de seus colegas cubanos, aporta em troca alguns momentos de oportuna introspeção.

"Interiores" é uma boa experiência cênica para o público, inclusive para o público jovem, uma travessia por moldes estéticos que se bem não são novidade, estão bem distribuídos, bem dosados.

É uma obra que revela a inquietude de um coreógrafo que quanto melhor metabolizar o material que manipula, ganhará a profundidade e o refinamento para alçar maiores vôos.

Valerio Cesio

é crítico e coreógrafo


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