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Jornal DAA - Linha Direta - 53

LINHA DIRETA


O linha direta é um espaço aberto à todos. Aqui, idéias, opiniões e ponderações ganham espaço, em democrático exercício de pensar, sentir e ver a dança, a arte, a vida. Ao selecionar os textos não nos cabe tomar partido, apoiar ou discordar. Entendemos que nosso trabalho reside em propiciar a exposição, em fomentar discussão e abrir caminhos para ações, intenções, projetos e sonhos.


Neste número Bob Cunha professor de dança de salão no Rio de Janeiro ergue bandeira: a falta de união que tem como resultado o primarismo das relações comerciais, a falta de um órgão que represente os interesses da classe quando da formatação e aprovação de políticas governamentais de patrocínio artístico e ainda a ausência da dança de salão em empreendimentos ligados a outras áreas de cultura e lazer, como a rede de turismo e casas noturnas da cidade. É ler, analisar e se posicionar.

 

No Reino da Competição por Nada

Será que na prática existe alguma diferença entre quem tem 6 meses de aulas de dança em turma (basicamente bolero, swing e samba) e um profissional que estuda dança há 14 anos, com formação em vários gêneros, jazz, contemporâneo, corpo, didática, que faz apresentações do seu trabalho e com seus alunos?

Para o primeiro tudo é festa por que ele não investiu nada ou investiu muito pouco. Para o profissional é muito diferente por que, além de estudar e levar a sério seu trabalho, continua produzindo, melhorando, tudo sem qualquer auxílio ou patrocínio.

Mesmo considerando o crescimento da dança no país, ela é fraca política e financeiramente e ainda não fomos capazes de nos organizar e, talvez por isso, o apoio seja pouco ou só para algumas pessoas com QI (quem indica).

É então quando as diferenças entre esses dois personagens se tornam gigantescas: se formam grupinhos, acontecem as "apelações", surgem os padrinhos, e a força na mídia. Pior que isso só o que rola nos bastidores. Você sabia que:

· o cachê de novela para 8h de gravação é de R$100,00?

· 4 horas de ensaio, sem qualquer remuneração é prática comum?

· o critério de seleção é: "pega aí, senão outro pega"?

· muitas pessoas trabalham sem RG e qualquer formação profissional?

· muitos "professores" apresentam cartão de visitas, mas não apresentam seus alunos, trabalho ou produção e ainda assim tiram o espaço dos verdadeiros profissionais?

Então...Ser comercial é tudo? competir com nada, vender o nada. Estudar para quê? Para ainda ter que ouvir críticas de quem não tem condições de te avaliar?

Queremos ampliar horizontes, ter patrocínios, acesso aos teatros. O teatro seria show (gerando empregos), o difícil, a criação, recriação, inovação, para que nada seja tão idiota, monótono e sem a menor perspectiva de crescimento, para quem puder sentir dor e prazer, colocando a modalidade em planos nunca vistos, sujeitos à apreciação, depreciação, inveja, críticas positivas e críticas negativas...

Queremos mostrar trabalhos de alto nível, levando o povão para os teatros e/ou casas de show (estas que seriam grandes vitrines, mas que não temos como opção). E fazer com que os bailes sejam sempre bailes e não essa "porradaria" que vemos hoje. Vejam a ironia: muitos acham que para os bailes nosso trabalho é "muito" e para o palco é "pouco".

Na verdade, os grandes profissionais estão de parabéns pois, conseguiram superar todas essas dificuldades, mostrando qualidades, tudo isso sem o menor apoio e com muito esforço pessoal. Apesar de tudo a Dança de Salão cresceu, desordenadamente é verdade, mas cresceu. Contudo precisamos questionar:

· Onde estão os órgãos de cultura que deviam nos dar apoio financeiro?

· Por quê os cachês são essa vergonha?

· Por que aceitamos o dança aí, me dá uma "canja"?

· Por quê tanta pose se somos "duros" ?

· Por quê comemos sardinha e arrotamos bacalhau ?

· Por quê não estamos ligados ao turismo e à casas de show ?

· Por quê não temos empresários de dança?

Tomara que no final não precisemos pedir esmolas, passar mais necessidades ou cair no esquecimento. Temos exemplos vivos disto. É o que fico pensando.

Por outro lado, após reunião na escola para aprovação dos syllabus do samba (organizado por Fábio Bonini e Danielle Areco - SP), fiquei feliz de verdade, por ver muitas diferenças de currículo, de propostas, de atuação profissional, de formação, de nível cultural, de resultados na prática. De fato estávamos reunidos, decidindo 25 syllabus, para que o nosso samba tivesse condições de estruturação para competição no exterior. Era esse o motivo da reunião, mas quanta coisa foi falada fora da pauta - em paralelo, por que nunca havia existido uma reunião para questionar, ampliar e colocar todas essas questões pendentes há anos, para que houvesse avanços e uma moderna atuação da classe.

Será que temos condições de fazer essa união da classe ou é melhor deixar pra lá, deixar assim como está, comprovando nosso mestrado em desorganização e incompetência, ou talvez atendendo ao interesse de alguns ...

Não! Espero que possamos ainda, crescer de forma reta, coerente, com mais apreciação, apoio, projetos sociais, culturais, dinheiro, patrocínios e que a dança não seja das artes a mais desgastante, com a pior remuneração e falta de apoio. Ela que é divina, profana, digna de admiração e aplausos, também deve ser digna de sobrevivência. O triste é que ainda somos obrigados a ouvir "você é que é feliz , trabalha com o que gosta!" E o resto? Fácil, né? ... então tá!

Bob Cunha é professor de dança de salão

 


O DAA se reserva o direito de editar os textos para atender à exigências de espaço e/ou melhor compreensão, mantendo contudo o sentido original.


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