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COLUNA LEONEL BRUM
VÍDEO DANÇA Leonel Brum vem integrar a equipe de colaboradores do
Jornal Dança, Arte & Ação. Fruto de um convite antigo, esta coluna aborda
um tema novo, e que tem mexido com a cabeça dos dançarinos, principalmente os
contemporâneos, amigos da mistura de linguagens. Antenado com os últimos
acontecimentos da área, Leonel sintoniza o futuro e conecta nossos leitores com mais este
desafio dos tempos modernos. Pesquisador da memória da dança carioca, diretor
artístico e fundador de eventos da repercussão de um Dança Brasil promovido
pelo Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de Janeiro e Brasília ou do Dança em
Foco, realizado pelo SESC. Leonel também participa voluntariamente do PEM -
Programa Educação pelo Movimento que atende crianças e jovens de famílias de
baixa renda da Cidade de Deus - Rio de Janeiro. Pelas mãos deste ativo
participante dos novos rumos de nossa dança, abre-se mais um canal de
informação no Dança, Arte & Ação: bom programa! É com grande
satisfação que inauguro essa coluna dedicando meu agradecimento a Luis Florião
por me convidar para a equipe de colaboradores do Jornal Dança Arte & Ação.
Na realidade, trata-se de um convite renovado, pois a primeira de várias
conversas que tivemos sobre o assunto ocorreu em 2001, período em que me
encontrava completamente envolvido com a finalização da minha dissertação de
Mestrado sobre a Dança Contemporânea Carioca da Década de 1990. Como acredito que tudo chega a seu tempo, essa coluna surge num momento
particular em que emerge uma necessidade de se registrar o crescente interesse
dos eventos nacionais e internacionais pela produção brasileira de vídeo-dança. O objetivo dos meus textos será o de
compartilhar com os leitores as experiências que tenho vivido ao circular por
esses eventos divulgando os vídeos produzidos pelos criadores brasileiros. Mas
antes de abordar as minhas passagens pelo Ateliê de Coreógrafos Brasileiros e
pela Jornada Internacional de Videodanza México, vou tecer algumas
considerações sobre o vídeo-dança. Mas, afinal, o que é
vídeo-dança? Por ser uma área ainda muito recente no Brasil, essa é a primeira
pergunta que, invariavelmente, surge em todos os lugares por onde a mostra
circula no país. Costumo dizer que todas as tentativas de conceituação do
vídeo-dança esbarram em inúmeras limitações, pois ainda não existe um conceito
que possa dar conta das diversas possibilidades de manifestação desse tipo de
obra. Proponho, então, leituras possíveis como, por exemplo, a de que o
vídeo-dança seja considerado como a materialização dos pensamentos do
coreógrafo e do videomaker numa dramaturgia híbrida que não deixa distinções
entre o vídeo e a coreografia. Em outras palavras, pode-se pensar em
vídeo-dança como um diálogo entre a dança e o vídeo cujo resultado gera um tipo
de obra onde essas linguagens se tornam indissociáveis. E, parafraseando a
pesquisadora carioca Thereza Rocha, torna-se, ao mesmo tempo, uma dança feita
de vídeo e um vídeo feito de dança. Mas essa é apenas uma das leituras
possíveis. Espero ter outras oportunidades de mostrar que o vídeo-dança está
longe de ser um simples registro de coreografia em vídeo. Atualmente, o Ateliê de Coreógrafos Brasileiros é um dos mais
importantes e inovadores projetos nacionais de fomento à produção de dança
contemporânea brasileira. Capitaneado pela bailarina e produtora Eliana
Pedroso, o evento apresentou a sua 3a edição entre 15 e 20 de
outubro, no Teatro Castro Alves, em Salvador. Renovada anualmente, a comissão
de seleção formada por Adriana Gehres, Cássia Navas, Jussara Miranda, Roberto
Pereira e pela própria Eliana Pedroso elegeu, além da Bahia, quatro projetos de
montagem de diferentes Estados. Depois de dois meses de processo, os
coreógrafos convidados apresentaram os seguintes trabalhos: Construindo
Janice, de Kleber Damaso (GO), Relações, de Carlos Laerte (RJ), O
Samba do Crioulo Doido, de Luiz de Abreu (SP), Oposto, de Clênio
Magalhães (BA), e Vermelho, de Saulo Uchoa (PE). Além dos espetáculos do
palco, o Ateliê apresenta também outras atividades paralelas, como debates,
palestras, oficinas e a mostra Solos > 40 (bailarinos com mais de 40
anos). Este ano, o evento inovou ao convidar para programação paralela a
mostra de vídeo-dança Painel Brasil, acompanhada da minha palestra. Ao
elaborar o programa me dei conta de que três dos vídeos selecionados foram
produzidos em edições anteriores do próprio Ateliê, são eles: Por onde os
olhos não passam (2003), de Andrea Maciel e Paulo Mendel; Pele
(2002), de Ivani Santana, Danilo Scaldaferri e Ana Rosa Marques; e Memórias
em desalinho (2003), de Karin Virgínia Girão e Luiz Carlos Bizerril, sendo
esse último produzido a partir do espetáculo homônimo criado pela própria Girão
para a edição de 2002. O evento tem produzido, assim, de modo espontâneo,
algumas obras de vídeo-dança como uma espécie de subproduto de suas atuações.
Mas o Ateliê é um projeto desafiador, sobretudo para si mesmo. Talvez, tenha
chegado o momento de incluir em seu processo de criação a produção desse tipo
de obra, explorando um potencial que já ocorre naturalmente. Também em sua terceira edição, a Jornada Internacional de Videodanza
México, dirigida pela bailarina, professora e videomaker Hayde Lachino, foi
realizada entre 27 e 29 de outubro na conceituada UNAM - Universidad
Autónoma de México. A programação do evento contou com mesas redondas,
oficinas, palestras e uma mostra de vídeos que reuniu títulos de vários países,
como: México, Brasil, Argentina e Uruguai. A apresentação dos vídeos
brasileiros se destacou e foi a primeira vez que essas
obras foram exibidas num grande telão de cinema. Só para se ter idéia, as
instalações da Universidade contam com duas grandes salas de cinema, dois
teatros (um deles para Ópera), concha acústica e outros modernos espaços
culturais. Pela primeira vez, Lachino tratou de levar convidados internacionais
para abrir diálogo com outros países. Além de mim, estava presente a bailarina,
coreógrafa e videomaker Silvina Szperling, representando o Festival
Internacional de Videodanza de Buenos Aires e a cineasta alemã Lilo
Mangelsdorff, exibindo seu documentário intitulado Damas e Cavalheiros com
mais de 65 anos, realizado com o elenco de um espetáculo de Pina Bausch. As
discussões entre os convidados, os criadores e os produtores locais seguiram no
sentido de ser inaugurado, na UNAM, um núcleo de produção de vídeo-dança mexicano,
com possibilidades de futuros intercâmbios entre obras e artistas de outros
países da América Latina, incluindo o Brasil. A Jornada do México também foi
palco da fundação do projeto Circuito Mercosul de Vídeo-dança, envolvendo
inicialmente Brasil, Argentina e Uruguai, com possibilidades de desdobramentos
também para o Chile. É importante
ressaltar que o interesse pelo vídeo-dança vem crescendo, não somente no
Brasil, mas também em outros países sul-americanos. Manter o diálogo com esses
países e se aproximar de outros poderá criar uma rede que ofereça uma
oportunidade inédita de se estabelecer, em médio prazo, um mercado efetivo de
vídeo-dança na América Latina, com a mesma competência e qualidade dos
principais produtores da França, Alemanha, Holanda, Inglaterra e Estados
Unidos, países famosos pela tradição desse tipo de produção.
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