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COLUNA VERA ARAGÃO
Aproveitando o 22º
Festival de Danças de Joinville, o maior encontro no gênero, realizado de 21 a
31 de julho, inauguramos neste jornal, uma vitrine para jovens bailarinos ou,
mais que isso, um reconhecimento à sua dedicação e à competência de seus
professores, ensaiadores, coreógrafos. Iniciaremos um trabalho de observação a ser
feito, sempre que possível, em festivais, encontros, mostras de dança, com o
intuito de referendar, flagrar talentos que, por qualquer razão encontram-se
encobertos na cena frágil e efêmera da dança. Criado em 2000, o
“Meia-Ponta” é o palco da categoria que abrange participantes de 9 a 12 anos de
idade e como o próprio festival menciona, trata-se de um berçário de talentos.
Por haver ministrado aulas de ballet clássico para essa faixa etária e por
dedicar-me, há anos, à metodologia de ensino do ballet, muito haveria a
declarar. Nas mostras competitivas do Festival, principalmente o nível
infantil, obteve condição de excelência. Seria injusto deixar de mencionar
tantos trabalhos de qualidade, tantas crianças bem dotadas e bem orientadas,
todos igualmente merecedores de destaque: afinal, estamos falando de um evento
com cerca de quatro mil bailarinos. Assim, envio minhas homenagens a Jorge
Teixeira, Ricardo Scheir, Rosana Torres (do Guaíra), figuras paradigmáticas
quando o assunto é trabalho de qualidade. Mas me entrego à
tendência de iniciar esta coluna em caráter de exceção, levada pelo emocional,
sem priorizar escolas que brilharam na apresentação de talentos, sem vislumbrar
a exibição cênica, mas tratando de crianças anônimas, cuja maioria não
competiu, mas acalenta o sonho de fazê-lo; crianças levadas ao festival pela
mão de professores, diretores de escolas tão curiosos quanto elas próprias;
jovens para quem a informação foi absorvida até a última gota. Sob esse aspecto
meu reconhecimento ao Studio Corpo de Baile, de Natal, e à escola de Melissa
Martins, de Foz do Iguaçu. Trabalho de qualidade, disciplinado, crianças em
cujos movimentos é possível perceber rigor artístico, a técnica como meio, não
como fim. Parabéns. Ao trabalho do professor deve-se dar especial atenção, pois
é possível valorar seu grau de informação pela execução técnica de seus alunos:
vícios posturais, trabalho de pés insuficiente, musculatura hipotônica são
clichês de professores que, almejando o adiantamento dos alunos, apressam-se em
introduzir movimentos em seu aprendizado, sem que estejam preparados para
executá-los. Seria produtivo um diálogo entre professores que ministraram
cursos e responsáveis por grupos de alunos, visando maior socialização de
informações, orientação didática e metodológica, oferecida aos que assim o
desejarem. Mas, sobre uma
criança direcionei minha atenção. Trata-se de Gabriel Fialkoritz da Costa
Leite, 11 anos, aluno de Geni Horta, do Estúdio de Ballet Cisne Negro, São
Paulo. Gabriel iniciou seus estudos aos sete anos, no colégio, seguindo os
passos da irmã mais velha. Seu interesse pelo ballet foi
progressivamente aumentando, até que ingressou na Escola Municipal de Bailados,
e posteriormente, no Cisne Negro. Dedicação e força de vontade vêm
caracterizando sua trajetória. Há alguns meses demonstrou o quanto ama o ballet,
quando, por ordens médicas, devido a problemas cardiológicos sanados em
delicada cirurgia, ocorrida em maio passado, abriu mão de todas as suas
atividades físicas como medida pós-operatória, mas só se ausentou do ballet por
20 dias, pois desejava, ardentemente, preparar-se para sua primeira competição:
o Festival de Dança de Joinville. Gabriel foi atento às
aulas, disciplinado, inteligente na percepção das correções. Não foi premiado,
mas competiu, enfrentou o desafio. Lutou. Agora, totalmente recuperado, poderá
dedicar-se ao ballet integralmente, sem medo. Ao Gabriel, minha homenagem e um
antigo conselho chinês: “não corra, não se aflija: a vida vem”.
Vera Aragão (bailarina aposentada do Theatro
Municipal do RJ, formada pela escola Maria Olenewa, integrante do primeiro
elenco da Companhia Brasileira de Ballet, pedagoga, mestranda da UNIRIO,
professora de ballet e prática de ensino do curso de licenciatura em dança da
UniverCidade, RJ).
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