Principal Edição Atual Edições Anteriores Participe Informativo Fale Conosco Rio de Janeiro - |
MOSAICO Nesta edição o espaço do
Mosaico é, mais uma vez, de Eraci Oliveira, convidada que nos brinda com “dança
feliz” um conceito próprio da transmutação e das possibilidades experimentadas
pelo humano frente ao dançar. Mais uma vez nosso quebra-cabeças contemporâneo
convida a pensar, dançar e ...ser feliz. UMA DANÇA FELIZ Para este artigo, tentaremos algumas
considerações sobre as experiências estéticas que os encontros com a dança nos
proporcionam. Visto que este fenômeno, a despeito de se repetir com freqüência,
está sempre nos surpreendendo, figura-se então como uma fonte inesgotável de
inspiração, especulação, questionamento e acima de tudo encantamento, e como
tal, além de todo e qualquer argumento lógico. Cabe-nos então, humildemente,
nos render a supremacia da natureza de tais impactos, que como rodamoinhos, nos
atiram diretamente no olho do furacão, enchendo de perplexidade a vida,
zombando do senso comum, da censura e da crítica. Como uma criança, a dança
reacende a chama da vida. Situemos então, a dança da qual falamos, e para tal
iniciaremos por qualificá-la de uma maneira não muito comum. A exemplo de
Gaston Bachelard, que magnificamente em “A Poética do Espaço”, qualifica as
“imagens poéticas” como “felizes”, chamaremos de “dança feliz”, não o produto
final de grandes produções, ou as manifestações espontâneas ou marcadas das
danças populares, nem os fenômenos dançantes da cultura de massa. Chamaremos de
“dança feliz” a própria essência do ato de dançar, que independente de sua
motivação direta e imediata e de sua localização no espaço e no tempo, tanto
ressoa quanto repercute como potência criadora, respectivamente, no âmago de
quem a pratica e no de quem a recebe. Neste contexto, a dança é signo do novo
ser que se recria a si próprio em plena vida, sobrepondo-se a todos os dramas a
que está sujeito, como por exemplo: psicológicos, sociais, afetivos,
metodológicos – talvez o mais dramático de todos – culturais, políticos, enfim,
o drama generalizado de todas as forças do poder que subjugam e atrofiam as
singularidades, mas que por fim, ao gerar tamanho incômodo, acabam por
lançar-nos contra elas mesmas. Portanto, para entrarmos definitivamente no
tema, sugerimos aqui a apropriação da expressão dança feliz propondo ainda, a
seguinte questão: Como um acontecimento singular e efêmero de uma dança feliz
pode fazer reagir, sem nenhum tipo de preparação especial, em outras almas e em
outros corações o sentido da vida? Ultrapassando
as barreiras do senso comum, uma dança feliz, a despeito de todo o processo que
a precede e envolve, preserva o seu potencial de imprevisibilidade
característico e toma de assalto não somente seus executantes como também seus
expectadores, atualizando a vida. É o próprio fenômeno de transbordamento das
subjetividades que repercutem pelo ambiente próximo, fazendo erguer-se
ingenuamente dentro dos expectadores o dançarino que o habita, e no dançarino,
o ser político que conclama a luta contra as barreiras que oprimem, restringem
e cerceiam a vida no que ela tem de essencial. Este é o benefício direto e
instantâneo que uma dança feliz opera, uma experiência salutar de emergência no
duplo sentido desta palavra, pois nos faz sair de uma situação, normalmente
crítica em que vivemos mergulhados, a situação do senso comum que se serve da
linha pragmática da linguagem para a instauração da reflexão crítica que embota
e detém toda a alegria da criação. O efeito imediato de uma dança feliz é como
o cintilar de uma centelha de impulso vital, que apesar de não ser de
necessidade crucial, serve como um tônico para a vida verdadeiramente dita. Não
obstante, pode-se viver sem tudo isto, mas a vida torna-se mais feliz, mais bem
vivida quando compartilhamos momentos fugazes e efêmeros com uma dança feliz.
Por tal dança sentimos uma adesão instantânea, como se ela nos falasse
diretamente ao coração. Apreender o seu sentido intrínseco, é recriar momentaneamente
a própria vida, que sem percebermos, morre um pouco a todo instante, cada vez
que lhe subtraem sua espontaneidade. Este é um dos maiores atrativos de uma
dança feliz, a capacidade de proporcionar uma interação direta com forças que
não passam pelos circuitos do saber e, no entanto se servem da técnica, da
tecnologia, da cultura, assim como do improviso, do acaso e da
imprevisibilidade. Para terminarmos, já que o espaço é restrito e o tema
proliferante, podemos considerar tal encontro estético como uma experiência de
liberdade, que mesmo inserida em um contexto, nos fala como um diferencial na
evolução da história e não como um sub-produto seu. Portanto, uma dança feliz é
aquela que nos incita a restituir o domínio sobre nossas vidas. Um exemplo de
dança feliz é “Intervalo” do meu colega Frederico Paredes. Eraci de Oliveira é bailarina
Rua Carmela Dutra, nº 82 - Tijuca - Rio de Janeiro - RJ - CEP.: 20520-080 TeleFax: 21 2568-7823 / 2565-7330 http://www.dancecom.com.br/daa E-mail: daa@dancecom.com.br |