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CONSIDERANDO O SALÃO LAMBADA NÃO É
ZOUK A
Música do Caribe
Em vez de
Caribe, o mais correto seria a região chamar-se "Os Caribes",
considerando que as ilhas foram dominadas por diversos povos europeus, dando
características muito diferentes a cada uma delas. Os Caribes seriam quatro: o
espanhol, o francês, o inglês e o holandês. Todos têm
em suas culturas, em maior ou menor grau, influência dos nativos, dos invasores
e dos africanos. Na música,
isso representou uma enorme diversidade, mas com um detalhe: quase todos os
países utilizam principalmente os instrumentos de cordas que vieram da Europa e
a percussão africana (basicamente do povo Yorubá). Muitos
acreditam que a lambada - música e dança - sejam produtos culturais do Caribe.
Também há aqueles que acreditam que lambada e zouk sejam nomes diferentes para
o mesmo ritmo e dança, mas nada disso é verdadeiro. Para entender como surgiu a
lambada e desfazer essa confusão é preciso saber um pouco mais, separando
danças e músicas nesse caldeirão de ritmos. A Música Zouk A música caribenha,
que é também ingrediente de diversos ritmos brasileiros, sempre teve grande
influência no norte do Brasil, em especial no Maranhão. O zouk é
uma dessas músicas. Forte onde ocorreu colonização francesa como a Martinica e
Guadalupe, ele é cantado, normalmente, em creòle, uma mistura do francês com
línguas africanas. Estudiosos acreditam que a sua base rítmica pode ser oriunda
da cultura árabe. Esta mesma base é encontrada em vários países como Espanha e
Portugal, no mundo árabe, no continente africano e em praticamente toda a
América. Uma das
versões sobre o surgimento da música zouk afirma que ela foi criada para
divulgar a Martinica e ter, a exemplo de Cuba, influência cultural na América
Latina. O resultado foi apenas parcial: conseguiram que o ritmo se espalhasse
pelo mundo, mas como isso ocorreu a partir da França, em diversos lugares,
inclusive no Brasil, muitos passaram a acreditar que a música e a dança seriam
francesas. Tanto é que
por muito tempo, quando era moda dançar lambada, chamávamos os zouks de lambada
francesa. A Dança Zouk
O zouk -
que significa festa - é uma dança praticada no Caribe, principalmente nas ilhas
de Guadalupe, Martinica e San Francisco. A exemplo
do merengue, é dançado trocando o peso basicamente nas cabeças dos tempos
musicais (o que muitos professores de dança chamam simplesmente de tempo) e sua
coreografia é simples e pouco elaborada. A Música Lambada
Surgida no
Pará, a música lambada tem base no carimbó e na guitarrada, influenciada por
vários ritmos como a cúmbia, o merengue e o zouk. Diversos
relatos de paraenses contam que uma emissora local chamava de
"lambadas" as músicas mais vibrantes. O uso transformou o adjetivo em
nome próprio, batizando o ritmo cuja paternidade deve ser creditada ao músico
Pinduca. O novo nome
e a mistura do carimbó com a música metálica e eletrônica do Caribe caiu no
gosto popular, conquistou o público e se estendeu, nessa primeira fase, até o
Nordeste. O grande
sucesso, no entanto, só aconteceu após a entrada de empresários franceses no
negócio. Com uma gigantesca estrutura de marketing e bons músicos, o grupo
Kaoma lançou com êxito a lambada na Europa e outros continentes. Adaptada ao
ritmo, a música boliviana "Chorando se foi" tornou-se o carro chefe
da novidade pelo mundo. É uma história
recorrente, onde apenas mudam os personagens: a valorização do produto nacional
se dá tão somente após a vitória no exterior. Seguiu-se
um período intenso de composições e gravações de lambadas tanto no mercado
interno quanto externo. Os franceses, por exemplo, compraram de uma só vez os
direitos autorais de centenas de músicas. Dezenas de grupos e diversos cantores
pegaram carona no sucesso do ritmo, incrementando suas carreiras, como foi o
caso de Sidney Magal, Sandy e Jr, Fafá de Belém e o grupo Balão Mágico. Depois
dessa fase de superexposição, como acontece com quase todas as boas novas de
ontem, deu-se um natural desgaste com a conseqüente queda nas vendas até o cessar
da produção. A Dança Carimbó
Antes de falar
sobre a dança lambada devemos lembrar um pouco de uma de suas raízes: o
carimbó. Dança
indígena, pertencente ao folclore amazônico vem sendo dançado por lá há
séculos. Ascendente direto da lambada é, na forma tradicional, acompanhado por
tambores de tronco de árvores afinados a fogo. Atualmente o carimbó tem como
característica ser mais solto e sensual, com muitos giros e movimentos onde a
mulher tenta cobrir o homem com a saia. A Dança Lambada
A dança
lambada teve sua origem a partir de uma mudança do carimbó que passou a ser
dançado por duplas abraçadas ao invés de duplas soltas. Assim como o forró, a
lambada tem na polca sua referência principal para o passo básico, somando-se o
balão apagado, o pião e outras figuras do maxixe. Usa-se,
para as trocas de peso, normalmente, as cabeças dos tempos e o meio do tempo
par; se começarmos a dançar no "um", (pisa-se no "um", no
'dois" e no "e" - o que chamamos comumente de contratempo,
apesar de não ser usado em termos musicais). A lambada
chega a Porto Seguro, e ali se desenvolve. Boas referências foram a lambada
Boca da Barra e o Jatobar em Arraial D'Ajuda, onde desde o início também zouks
(lambadas francesas) serviram para embalar os lambadeiros. Tudo isso
acontece na época do apogeu do carnaval baiano, que ditava uma moda atrás da
outra, e numa delas, apresentou a lambada ao Brasil. Essa
segunda fase da dança durou apenas uma temporada e foi um pouco mais abrangente
que a primeira que só havia chegado até o nordeste. Até esse
ponto a lambada era uma modalidade que tinha como principal característica os
casais abraçados. Era uma exigência tão forte que, quando da realização de
alguns concursos, aqueles que se separassem eram desclassificados. No exterior
e aqui, a lambada torna-se um grande sucesso e em pouco tempo marca presença em
filmes e praticamente todos os programas de auditório aparecendo até em
novelas. É a hora dos grandes concursos, shows etc. A necessidade do espetáculo
faz com que os dançarinos criem coreografias cada vez mais ousadas, com giros e
acrobacias. Depois de
algum tempo, a música lambada entra em crise e pára de ser gravada. Os Djs das
boates aproveitam então para simular o enterro do estilo musical. A dança perde
destaque, mas sobrevive, pois já haviam sido feitas nas lambaterias muitas
experiências com variados estilos de música que tivessem a batida (base de
marcação) que permitisse dançar lambada, só para citar um exemplo, a banda de
rumba flamenca Gipsy Kings teve vendagem significativa por aqui por conta da
dança, então as músicas francesas, espanholas, árabes, americanas, africanas,
caribenhas etc. viraram a "salvação" e solução para a continuidade do
estilo de dança. De todas, o zouk foi o ritmo que melhor se encaixou na nossa
dança tornando-se a principal música para dançar lambada. Esta passa
a ser dançada com um andamento mais lento, com mais tempo e pausas que
praticamente não existiam na música lambada, permitindo explorar ao máximo a
sensualidade, plasticidade e beleza da nossa criação. Os movimentos ficaram
mais suaves e continuam fluindo, modificando-se à medida que ela incorpora e
troca com outras modalidades. Contribuem ainda as diversas pesquisas, até fora
da dança de salão, como por exemplo, as de contato e improvisação. Hoje a
relação com o parceiro volta a ganhar valor, as acrobacias ficam praticamente
exclusivas para os palcos e os locais para dançar reabrem em diversos estados. Mesmo não
tendo, por parte de alguns, o devido reconhecimento, a lambada mostrou-se um
grande incremento profissional. Encontramos
lambaterias e professores de lambada em diversos pontos do planeta e ainda que
a chamem de zouk, muitos viveram e vivem dela até hoje. De toda
essa história ficaram ótimos frutos, por exemplo: uma boa parte dos talentos da
dança de salão de hoje surgiu a partir da lambada; a apresentação aos jovens da
dança a dois; a visibilidade internacional conquistada - a lambada é a nossa
dança de par mais conhecida no exterior (mais até que o samba) e principalmente
o resgate do direito, perdido a décadas, de dançar abraçado. Aqui
termina esse artigo, mas essa história está muito longe de acabar. Luís Florião é professor de dança de salão Luís Florião é professor de dança de salão
Rua Carmela Dutra, nº 82 - Tijuca - Rio de Janeiro - RJ - CEP.: 20520-080 TeleFax: 21 2568-7823 / 2565-7330 http://www.dancecom.com.br/daa E-mail: daa@dancecom.com.br |