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Jornal DAA Mundo da dança - 56

O MUNDO DA DANÇA


DANÇA E PODER

As complexas, e as vezes aleatórias, relações entre a produção cultural de uma comunidade e os indivíduos que por conjunturas políticas a gerenciam, geraram ao longo da história momentos de glória e de estupidez; certamente menos dos primeiros que dos segundos.

Talvez a arte deva mais aos mecenas do renascimento que às pesadas estruturas que administram a cultura hoje em dia.

A dança, humilde e submissa, luta com poucos elementos para obter o lugar que em realidade lhe é de direito. E os obstáculos são tantos que não surpreenderia haver perdido no caminho mais de um Miguel Ângelo coreográfico, vítima das armadilhas próprias do labirinto perverso do mercado.

Novos funcionários públicos em Frankfurt decidiram de um dia para o outro que o Ballet da cidade deveria mudar, ou seja, eliminar o que existe e criar uma companhia de ballet clássico. Obviamente isto aterrorizou toda a comunidade da dança internacional. Em primeiro lugar porque neutralizar uma das companhias de maior êxito no mundo parece descabido; depois, porque significaria despedir (ninguém mais, ninguém menos que) William Forsythe, um dos papas da coreografia atual, mundialmente consagrado e respeitado e, para arrematar, a criação de uma companhia clássica do nada é uma ingenuidade artística, ou seja: uma decisão na contramão da história.

Não é necessário dizer que chovem cartas em Frankfurt com a adesão dos colegas ao coreógrafo que é considerado entre os melhores equipados artisticamente para enfrentar os desafios que propõe a dança do século XXI.

O mesmo fenômeno se dá ao contrário em Berlim, onde a espanhola Blanca Li se deu ao luxo de renunciar a direção da companhia da Komischen Oper por incompatibilidade com a direção da célebre instituição (algo parecido com o que sucedeu com Maina Guielgud na companhia de Washington).

Diretoras artistas e conscientes não compactuam com os políticos de turno e preferem abandonar o ringue. Isto é alarmante, já que estes lugares ficam assim à mercê de puxa-sacos e oportunistas que concederão tudo para ocupar um lugar diretivo; e este filme na América Latina já vimos muitas vezes.

Se os políticos culturais não têm tino e os artistas competentes não têm paciência, estamos num impasse oportuno para a reflexão. Dança e poder deverão encontrar um novo idioma para entender-se, e assim cumprir sua função: dar boa dança para as suas comunidades.

 

Valerio Cesio

é crítico e coreógrafo


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