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O MUNDO DA DANÇA UM FESTIVAL DIFERENTE
Nos últimos 20 anos o Brasil teve uma importante expansão de sua produção coreográfica em todos os níveis do mercado. Por um lado companhias de dança particulares encontraram um perfil estrutural que lhes deu mais visibilidade. Por outro, os festivais multi-estilísticos se proliferaram velozmente abastecendo todas as regiões do país com eventos anuais que convocam bailarinos e estudantes de ballet, dança moderna, jazz, sapateados, folclores e danças de rua. Pequenas, medianas e grandes festas da dança que foram galgando os moldes exitosos ativados em Joinville, Uberlândia, Bento Gonçalves e Santos. Um crisol de festivais para uma multidão de corpos em trânsito. O Prêmio Cecília Kerche propõe abrir uma brecha na mesmice através da implantação de um formato europeu de concurso de ballet, um formato com mais de meio século de sucesso e alguns pontos de encontro clássicos como Varna, Paris, Moscou e Osaka. A cita foi na pequena cidade paulista Osvaldo Cruz (30.000 habitantes) onde funciona a fábrica da firma auspiciante, Só Dança - Trinys que fabrica, entre outras dezenas de artigos, as sapatilhas de ponta que levam o nome da famosa bailarina carioca. A diva Cecília Kerche dá nome ao novo concurso de balé Toda a infra-estrutura necessária para o evento foi implantada para a ocasião; pelo qual cabe destacar a equipe que viabilizou o projeto; em primeiro lugar Kerche, seu marido Pedro Kraszczuk e o diretor presidente de Só Dança, Ival Teixeira de Araujo que apostou no projeto desde seu nascimento; e também Marisa Pivetta e William Romão Costa da Stardance, que lidaram com a organização geral do encontro. O concurso se desenvolveu em várias etapas exigindo dos participantes um vasto repertório, o que por si já compromete seriamente tanto os executantes como os mestres repositores. A eleição do jurado foi particularmente feliz, presidido por Dalal Achcar deu garantias de uma visão lúcida e cosmopolita contando com a participação da primaballerina da Opera de Roma Claudia Zaccari e seu partenaire e marido, o francês Dominique Portier, a franco-americana Anne Polajenko professora do Miami City Ballet, a primeira bailarina uruguaio-chilena Sara Nieto, o cubano Orlando Salgado, diretor adjunto do corpo de baile estável do Teatro Colón, o argentino Gustavo Mollajoli diretor do corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e a brasileira Mariza Estrella, presidente do Conselho Brasileiro da Dança. Um corpo de visões múltiplas. Na noite de abertura, com casa cheia, Raça Cia de Dança de São Paulo apresentou o excelente O Caminho da Seda de Roseli Rodrigues, que constatou a todos o alto nível alcançado pelo grupo paulista assim como o arrojado talento de sua coreógrafa.(ver Dança, Arte & Ação - setembro/outubro) A seguir o Ballet Jovem do Rio, dirigido com competência e paixão por Mariza Estrella, apresentou a Suite Masquerade com coreografia de Tíndaro Silvano. Esta obra peca por uma implícita vacilação estética. Um pouco classiqueta por aqui, um pouco modernosa por ali, muitas caretas e pouca substância. Não obstante o Ballet Jovem se viu brioso e com boa potência; sem nenhuma dúvida em suas fileiras há meia dúzia de futuras primeiras bailarinas. A noite não poderia haver fechado com outra coisa que a esperada performance de Cecília Kerche, nesta oportunidade acompanhada pelo uruguaio-brasileiro Marcelo Misailides no pas de deux de Carnaval de Veneza. Cecília está em um momento profissional ótimo; madura, em plena forma e cheia de matizes. Executou a deliciosa variação com feminilidade e delicadeza, condimentando sua interpretação de porcelana com aveludadas extensões e precisão cristalina. Marcelo foi um digno partenaire de boa estampa (que melhoraria mais ainda com dois ou três quilos a menos). Depois da previsível ovação, a dupla teve que bisar as codas para satisfazer o enorme público presente. O Prêmio Cecília Kerche é uma experiência saudável que vem ocupar um lugar vago na paisagem dancística da América Latina.
Valerio Cesio é crítico e coreógrafo
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