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Jornal DAA Mosaico - 55

MOSAICO



FRAGMENTOS SOBRE CRÍTICA



MACHADO DE ASSIS, 1860

Estes preceitos, que estabeleço como norma do meu proceder, são um resultado das minhas idéias sobre a imprensa, e de há muito que condeno os ouropéis da letra redonda, assim como as intrigas mesquinhas, em virtude de que muita gente subscreve juízos menos exatos e menos de acordo com a consciência própria.

Firme nos princípios que sempre adotou, o folhetinista que desponta dá ao mundo, como um colega de além-mar, o espetáculo espantoso de um crítico de teatro que crê no teatro. E crê: se há alguma cousa a esperar para a civilização é desses meios que estão em contato com os grupos populares. Deus me absolva se há nesta convicção uma utopia cálida.


JOÃO DO RIO, 1909

O ideal da vida, cavalheiro, é tomar uma limonada, com a consciência de não ter azedado o trabalho glorioso dos contemporâneos.


SÁBATO MAGALDI, ?

Recomenda-se ao comentarista consciencioso, antes de redigir sua matéria, ao menos ler o texto e dominar a obra do autor, conhecer as correntes estéticas que se digladiam no campo da encenação e do desempenho, e os movimentos que sacodem as outras artes, para que se situe diante da proposta do espetáculo.

O crítico sério participa do processo teatral, atua para o aprimoramento da arte. Não é necessário citar numerosas campanhas que ele patrocinou ou apoiou, para a melhoria das condições dos que trabalham no palco. Até para deleite pessoal, o crítico encara o seu papel como o de parceiro do artista criador, irmanados na permanente construção do teatro.


PIERRE BOURDIEU, 1974

O artista e mesmo o erudito escrevem não apenas para um público, mas para um público de pares que são também concorrentes.(...) Poucos agentes sociais dependem tanto, no que são e no que fazem, da imagem que têm de si próprios e da imagem que os outros e, em particular, os outros escritores e artistas, têm deles e do que eles fazem.(...) Todo ato de produção implica na afirmação da sua pretensão à legitimidade cultural.

Como um produtor erudito produz não apenas para um público consumidor, mas também e principalmente, para um grupo de pares, que além de público são seus concorrentes, depende inegavelmente da crítica, cuja função é orientar o público ao entendimento das artes em geral. Além disso, os pares intelectuais (entre jornalistas, historiadores e literatos) têm de certo modo, a função de legitimar a obra.


YAN MICHALSKI, 1992

Estou convencido de que em países de pouca tradição teatral e de baixa média escolaridade a crítica não pode deixar de preocupar-se em ser didática. A meu ver nossa tarefa prioritária consistiria em colocar nas mãos do leitor recursos que o capacitem a uma fruição mais plena e consciente do ato de ver teatro. E, pelo menos indiretamente, levá-lo a conclusão de que um teatro mais exigente, que ele normalmente teria tendência de evitar, pode ser para ele tão ou mais gratificante quanto às comédias comerciais que ele normalmente teria tendência de procurar.


LUIZ FERNANDO RAMOS, 1994

Quanto à crítica contemporânea desenvolvida nos anos 80 e 90, se por um lado é herdeira obediente da produção crítica dos anos 40 a 70, que consolidou o modernismo, diferencia-se pela quase ausência de um projeto global para o teatro e, especificamente, por uma quase indiferença frente ao público. Nos anos 80 o movimento teatral despertou a desmobilização imposta pela ditadura militar. Uma nova geração de encenadores emergiu e ressurgiram propostas de experimentação. A crítica agora lava as mãos e se descompromete de mobilizar o público em qualquer direção. A crítica passou a agir como indicador de consumo, trava de garantia para o espectador médio nunca se surpreender. Em nome do público exerce a neutralidade. Nos anos 90 a crítica é apática e só inspira no público essa apatia.



BARBARA HELIODODRA, 1994

A crítica jornalística, para mim, tem um objetivo duplo. Por um lado, informar o espectador sobre o que é o espetáculo que está sendo levado. Mas, principalmente, ela tinha que servir para quem faz o teatro, com um ponto de referência de como é que está passando o espetáculo para o público. Devia ser assim, porque, afinal, o que é o crítico? Um espectador bem informado que reage ao que é apresentado. O papel da crítica é sempre, basicamente, este.



FREDERICO MORAIS, 2001

O crítico é hoje um profissional inútil. Sobra, talvez, o teórico.





MARINA MARTINS, 2000

A escrita crítica tem como função provocar no leitor, não uma sensação de gosto, mas a curiosidade. O texto deve conter elementos que iluminem a imaginação e estimulem a inteligência, como propor um olhar, apontar outros ângulos, mas, antes de tudo, deve ter uma sólida base ética, considerando tanto a liberdade de escolha do leitor quanto à liberdade de expressão do artista. Ao crítico cabe estimular, uma função tão delicada e compromissada quanto à do professor, uma prática que requer conceito, conhecimento e postura construtiva. Ao invés de servir para a indução do gosto do leitor num só sentido, a mídia pode ser veículo propositivo. Se utilizada com seriedade e respeito valoriza a dignidade do artista, do público e da própria classe.

Afinal, gosto não se discute, é assunto pessoal que não deve andar por aí, à boca miúda, ditando regras!

Marina Martins é

dançarina, coreógrafa,

diretora, professora e

pesquisadora


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