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Jornal DAA Considerando o Salao - 55

CONSIDERANDO O SALÃO


Reflexões e outras coisas do gênero...


É brinquedo não! Preconceito na grande mídia: Me surpreende a maneira como grande parte da mídia trata a dança a dois. Se é medo de perder telespectadores, preconceito ou pouco respeito por sua própria profissão (medido pelas tolices que falam alguns e a já de praxe falta de conhecimento e/ou desinteresse), não sei o que é, mas, é comum fazerem matérias que denigrem a nossa área.

Isso é considerado normal, afinal, poucos reconhecem a dança de salão como legítima manifestação de cultura e arte. Porém fiquei especialmente triste quando os responsáveis pela Estudantina, compactuando com essa prática, permitiram a filmagem daquela cena, verdadeiro “barraco” da personagem Ivete (Vera Fischer) na Gafieira. A Estudantina nos dá orgulho e é nosso elo com o passado – um ambiente humilde, popular, onde mais que qualquer outra característica prima pelo respeito ao próximo e pela distinção. Em mais de dez anos de dança de salão eu nunca vi nem soube de uma briga sequer em seu salão.

Bastou esse fato para que a procura pela modalidade caísse, por que os interessados passaram a associá-la a violência e a lugares onde acontecem brigas e “baixarias” ao contrário da dança do ventre que teve um sensível aumento no número de alunos.

A grande novelista Glória Peres sempre coloca danças nas suas novelas, valendo-se da plasticidade para dar colorido, referência cultural e ambientação às suas bem elaboradas tramas. Acredito que ela é uma das grandes incentivadoras e divulgadoras de nossa arte. Porém é comum no meio (conversei com vários professores sobre o assunto) a impressão que em o “Clone” a dança de salão foi, preconceituosamente ligada à “breguice”, à uma visão estereotipada e caricaturada. Por isso o público se afastou, casais buscando atividades “mais elegantes” e pais proibindo seus filhos de aprenderem uma dança “vulgar” - foi o que vimos acontecer - e isso representa também menos dançarinos para os bailes. No entanto, foi-se o tempo em que a dança de salão era praticada basicamente em escuras gafieiras ou clubes e apreciada por um público específico, em sua maioria pessoas mais idosas, humildes e que eram vistas por alguns como anacrônicas, ultrapassadas e até “esquisitas”. Graças a elas a dança foi preservada e pode ser redescoberta.

Hoje o nosso cenário é outro. Também as classes mais favorecidas e os jovens encontraram na dança de salão uma opção de lazer bonita, saudável e principalmente com adeptos totalmente contrários a qualquer tipo de violência ou “vexames”. Em nossos bailes não rolam brigas e outras mazelas. A dança de salão é hoje ponto forte em festas da alta sociedade, a classe média também adora um forró e o povão se diverte na gafieira sem gafes.

Torço para que no seu próximo sucesso, a escritora mostre a dança de salão como ela realmente é e a maravilha que é dançar abraçado. Aos representantes da Estudantina um alerta: nem toda publicidade vale a pena.


O impasse nos festivais: Os diretores das poucas companhias de dança de salão reclamam que nos festivais o concurso não é justo e/ou competente por que não são chamados profissionais da área para compor o júri e esperam por isso. Ao mesmo tempo os diretores dos festivais esperam que o número de inscritos na modalidade justifique o investimento de trazer jurados especializados. Quem vai dar o primeiro passo?


Você vai dançar...: Continuo ouvindo e lendo frases do tipo: “se não votar você vai dançar”. Vamos dar força à nossa arte! Participe da campanha de não associar dança à situações negativas. Se todo mundo fala, se o dicionário já contempla esse significado, vamos lutar contra isso. Infelizmente leigos como quem fez o anúncio do Metrô ainda usam dançar como sinônimo de ser prejudicado, eles não têm compromisso com a dança. Cabe a todos reclamar, defender nossa arte e principalmente cobrar daqueles que vivem da dança. Se você dançar vai ser mais feliz. Se você não votou direito, perdeu seu direito de cidadão. Bobeou.


Verde e amarelo sempre: Vamos dar um basta na visão sub-desenvolvida que acredita que para ser respeitado é preciso falar “ingrês”. Já temos o personal tudo: dancer, teacher, designer, trainner, stylist, temos campeonato de beach soccer no Rio, um programa de MPB “Made in Brazil” e ainda, printar, deletar, clipar, sale, off, petshop e muito mais. Com tudo isso aí a Lambada vira, erradamente, Zouk. Já abordei o assunto antes mas vale repetir: a língua é patrimônio de um povo. Se você não valoriza o que é seu, ninguém no mundo vai. Ser brasileiro não é só agitar bandeiras e cantar o hino a cada quatro anos na Copa.

Por falar em patrimônio, já escrevi anteriormente achar errado chamar lambada de zouk e a pergunta continua sendo feita: Existe uma dança chamada zouk? Existe sim, só que é totalmente diferente do que aqui se chama zouk; é muito parecida com o merengue.

Quando se dança lambada nem mesmo a música é só zouk (que também existe): dança-se lambada em qualquer música desde que tenha a batida adequada. Pode-se dançar ao som do pop, da kizomba, em músicas espanholas, em músicas árabes etc.

Acontece que você gosta muito de zouk e está totalmente convencido que o que a galera dança é zouk e não apenas uma evolução da lambada? Recomendo então que nesse caso procure mais informações, embase sua opinião com dados específicos, e não apenas por que “ouviu falar” ou “disseram”. Observe bem que quando o casal dança lambada ou o dito zouk rápido o que acontece é uma simples diferença de velocidade e um ou dois passos a mais. A essência é a mesma e pouco tem a ver com o zouk que por sinal só é dançado em poucos lugares no Brasil.

Você acha que com esse nome vai vender mais? Como bem diz o Marco Antonio Perna (da Agenda), ele já vem sendo usado a muito tempo e as turmas de “zouk” continuam vazias. Lambada é muito batido? lembre-se que o forró, sem mudar de nome virou moda e hoje é o ponto forte de muitas escolas.

Convenci? Ainda não? Então pense como todos ficamos aborrecidos quando chamam de samba, na dança esportiva, algo que nada tem a ver com o samba. Nome é coisa séria, não se aproprie do nome de outra dança.

Ah! você odeia o nome lambada! Então invente outro, como fizeram o Adílio Porto (lamba-zouk) ou Flávio Miguel e Aníbal (lambada-zouk). Como último argumento: Não entregue o que é nosso. Nossa dança que já tem mais de vinte anos, projetou e sustentou muita gente, lançando vários dos dançarinos e professores que revigoraram e são referência da moderna dança a dois brasileira.

Se com tudo isso você teimar no “zouk” – você provavelmente é daqueles que chama kombi de furgão e insiste em ir ao point, na night por que é cool. Aí, amigo, eu desisto.

Errata: no considerando 54 por uma falha de comunicação, já na fase de editoração, foi inadequadamente aplicado o pronome pessoal - ele - no começo da coluna.



  

Luís Florião
é dançarino e professor de dança de salão

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