DANÇANDO NAS ESTRELAS

Conheci uma pessoa alegre, não alegre quando o tempo estava bom. Alegre sempre.

Tenho estado preocupado com o futuro da dança, ela pode estar seguindo, junto com a nossa sociedade, para o abismo.

Eu o conheci na UFRJ, brilhava. Fizemos matemática, mas não nos uniram os números. Tempos depois a dança o fez - não sem antes ter feito muitos convites e recebido a mesma recusa: não levo jeito! Acabei vencendo pelo cansaço assim como fiz com meu sócio e tantos outros, consegui que conhecessem as maravilhas da dança de salão.

Começou tarde. Aluno tradicional que faz aulas após o trabalho. Ocupado – como fazer dança, trabalhar em três lugares, ir a bailes e ainda cuidar da esposa e filho de 4 anos?

As dificuldades de seu corpo eram superadas facilmente com sua inteligência e perseverança.

Seu perfil: tira para dançar todas as damas do baile (senhoras, meninas, mulheres feias e bonitas). No baile sua a camisa - e as troca várias vezes em respeito às parceiras, sorri, brilha – sem ficar querendo aparecer, elogia, agradece, quando a dama se desculpava, respondia de pronto: "não conduzi direito, vamos de novo", contagia, feliz em conhecer e obter o melhor de cada uma e de si. Dois desse em cada baile e nunca mais se ouviria falar em chá de cadeira.

Estou muito sem ter para onde correr, de um tempo para cá tem pesado nas minhas costas toda covardia, traição e mesquinharia do mundo. Vê-lo me ajudava a me abater menos com o que tenho visto e lido por aí. Me passava força, vitalidade, energia e dança, dança de verdade, vinda de dentro.

Vinha pensando muito nele. Um norte, uma luz, um amigo de quem quero me aproximar mais. Preciso driblar a falta de tempo.

Sempre uma nova brincadeira. Sempre envolvido com sistemas: programas, parafusos, fendas, cabos e coolers...

"Luís, em breve terminarei o sistema de computadores que interligará toda escola". Todas as funções administrativas e de ensino interligadas: valores, pagamentos, presenças, músicas. Um computador em cada sala e voilà. "Em breve", já está quase acabando, falta pouco...

Falei para ele hoje, na aula de samba, uma das que ele mais gostava - você está dançando cada dia melhor, com mais entendimento, tem muitos professores que não têm esse conhecimento e percepção da arte de dançar.

Ah, a vida nas cidades grandes governada por hipócritas: ganância, frieza, falta de respeito, de educação, hipocrisia, indiferença, impunidade, grandes negócios, negociatas, estatuto das pobres criancinhas de 17 anos que matam e estupram, polícia sem poder e com pouca moral, justiça lenta, tolerante e permissiva, direitos humanos só para os demônios, os verdadeiros remédios (difíceis e caros como educação, formação profissional, planejamento familiar, responsabilidade social) são deixados de lado em troca do voto fácil, burro, ignorante, comprado por um vale leite ou cidadão, uma telha ou ainda o apoio à favelização. Tenho pensado em sumir, fugir.

Quanto vale a vida de um homem de bem? A dele foi tirada hoje, através das mãos de ladrões de carros e com a conivência desses governantes e de quem vota em candidatos populistas e demagogos.

A nossa frase, a que você gostava é mais sua que nunca, amigo. Ela nos fará lembrar com carinho de você que agora faz parte das estrelas, que dança nas estrelas.

Difícil acreditar, difícil aceitar, difícil preencher o espaço vazio... Fico vendo, na minha mente, seu sorriso franco e imaginando o pequeno filho perguntando: mamãe hoje tem um baile no céu? Que horas papai volta?