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COLUNA DA CAMINADA
BATE PAPO Eles fazem parte de uma nova geração de ouro do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Karina Dias e Rodrigo Negri vêm se destacando por suas performances entusiasmadas, excelente nível técnico e sólidas interpretações. Nesse número revelamos um pouco da experiência e das esperanças desses jovens, legítimos herdeiros de um passado bonito, mas sacrificado e de muita abnegação, freqüentemente desconsiderado e esquecido pela própria categoria. Eliana Caminada Rodrigo Negri: Iniciei meus estudos aos 10 anos de idade com a professora Márcia Marques. Posteriormente obtive um aprimoramento com a professora Hortência Mollo. Sem dúvida estas duas orientadoras foram fundamentais para o meu desenvolvimento técnico e artístico. EC: Vocês pretendem desenvolver toda a carreira no Brasil? KD: Nunca tive intenção de sair do país, mas, gostaria sim de ter uma chance de me aprimorar com experiências internacionais, e voltar para somar essas novas experiências aos conhecimentos daqui. RN: Antes do concurso, pretendia fazer minha carreira fora, mas agora com a estabilidade, gostaria de ampliar meus conhecimentos e desenvolvê-los aqui no Brasil. EC: Quais são as expectativas de vocês em relação à Fundação Theatro Municipal do Rio? KD: Pode parecer demagogia, mas não paro para pensar; porém acredite: se a oportunidade aparecer, tentarei fazer o melhor que posso. Acho que fazer parte da companhia já é um privilégio. RN: Construir uma carreira sólida e crescer a cada dia, respeitando a todos e aproveitando as oportunidades concedidas. EC: Vocês pegaram as direções de Jean-Yves Lormeau, polêmica, sem dúvida, mas eficiente, e a excelente administração de Dalal Achcar. Tracem um paralelo entre essas duas oportunidades. KD: Dentro de sua proposta como diretor artístico, Jean-Yves foi, na minha opinião, muito bem sucedido. A companhia cresceu em disciplina e técnica. A direção de Dalal também veio acrescentar, aos nossos currículos, oportunidade de aprender mais, com remontadores internacionais famosos, com a montagem de ballets até então, nunca dançados pela companhia. Ambos têm seu valor e, com isso, só saímos lucrando, aperfeiçoando-nos cada vez mais. RN: Entrei na direção do Jean-Yves. Com ele aprendi a ser um profissional eficiente e disciplinado. Dalal me encontrou mais experiente, e me proporcionou a chance de desenvolver, em diversas montagens, o meu lado artístico. EC: Rodrigo, você foi unanimidade em Romeu e Julieta de Vladimir Vassiliev. Fale sobre este mito da história da dança e sobre este pedaço da sua trajetória artística. E para você, como foi Karina? RN: Com certeza Benvólio em Romeu e Julieta foi meu maior desafio artístico e técnico, até então. O Vladimir Vassiliev passando toda a sua experiência de grande artista - bailarino que foi (estrela que sempre admirei), me ajudou a compor esse personagem que amei fazer. KD: Sem dúvida foi uma excelente experiência, não é sempre que temos grandes oportunidades como esta. EC: Karina, você estimularia uma filha a seguir a profissão de bailarina? Rodrigo, você sofreu algum preconceito ao resolver seguir a profissão de bailarino clássico? KD: Estimular não, por saber o quão é difícil conviver com os bastidores da ilusão. Mas não a impediria se fosse este o caminho escolhido, porque tudo que é feito por amor é muito prazeroso. RN: Nunca percebi qualquer tipo de preconceito explícito, sempre tive o apoio de toda a minha família e de todos que me conhecem. O amor à profissão vence esses pensamentos pequenos. EC: Conhecem a inacreditável e indigna situação financeira em que se encontram os bailarinos pioneiros do Theatro Municipal? O que pensam sobre isso vocês, que já estão entrando com um salário decente? KD: Infelizmente não tenho conhecimento deste assunto, a única coisa que posso dizer neste momento é que, se isto acontece, lamento profundamente. RN: É muito triste que os bailarinos que dão a vida pela arte só passem a ser reconhecidos agora. É inacreditável que artistas que fizeram a história desse Theatro sofram com essa situação. EC: Vocês acreditam no futuro do ballet clássico? O que acham que está faltando para complementar a formação do bailarino brasileiro? KD: Sim. Nasci para a dança, e é dela que preciso para minha realização pessoal e profissional. A única coisa que acho que falta, é a consolidação e o reconhecimento do nosso trabalho. RN: Acredito. Pois existem grandes mestres de ballet e muitas revelações espalhadas pelo Brasil. Porém, a falta de apoio cultural por parte das entidades governamentais e empresariais no que diz respeito à dança, desestimula os profissionais a dar seqüência a sua formação. Conclusão: Meninos, vocês têm a admiração de bailarinos de todas as épocas, até dos que não foram beneficiados pelo recente plano de salários, dos que continuam sobrevivendo, às vezes, com dificuldade. Acreditem: hoje não é mais difícil do que ontem, nem de longe; os bandeirantes do Corpo de Baile, na sua maioria, deixaram para vocês um legado de amor e vocação que, vergonhosamente, nem sempre é considerado - até por seus próprios pares. O pas-de-quatre de O Lago dos Cisnes que se dançava em 1945 é o mesmo que se dança hoje; o esforço para executá-lo é o mesmo. Não fossem os antigos bailarinos e o Corpo de Baile, assim como nossa Escola Oficial, talvez não mais existissem. Temos fé de que será com a contribuição de profissionais como vocês, Karina e Rodrigo, entre outros, que esta situação não se repetirá mais, de que o valor maior de um bailarino dessa companhia - de ballet, antes de tudo - será sua competência para dançar. Porque vocês são a afirmação da qualidade do nosso ensino e do nosso talento; estão no Theatro Municipal do Rio como poderiam estar em qualquer companhia internacional, são herdeiros legítimos de uma tradição de dança acadêmica que esta cidade brasileira possui: a sua própria história. Cinderela - crítica Com uma bem humorada tradução da conhecida partitura de Prokoffiev - partitura irônica, crítica, chique e, poucas vezes poética - Roberto de Oliveira apresentou mais uma temporada da DeAnima, companhia oficial da cidade do Rio de Janeiro. O coreógrafo captou o sentido da música, inclusive seu caráter, eventualmente sentimental para criar o inspirado pas-de-deux que conclui o ballet. Cenografia, figurinos e concepção nos pareceram bem integrados num espetáculo de nível profissional. Nina Botkai é mais uma afirmação da dança no país do futebol: jovem, exuberante de técnica, ela convence, mesmo com dezesseis anos. Lara Kakowiz foi uma presença marcante e Fabiana Nunes, Humberto Manrique, Fran Mello valorizaram seus personagens. Fernando Bersot, ainda que bonito, mostra pouca desenvoltura no papel principal; precisa progredir muito. Nota-se no conjunto, mais uma vez excelente, a vontade de mostrar o melhor e apostar no perfil da companhia. Impressiona: o tempo disponível para apresentar dois programas em quatro meses e o aproveitamento dos elementos. Espera-se: que ao contrário do que geralmente acontece com muitas companhias, algumas até oficiais, a iniciativa sobreviva ao tempo, constituindo-se em mercado de trabalho para o excelente bailarino brasileiro. PS.: O som de Jamil Chevitarese e a iluminação de Milton Giglio são dez. Cinderela foi a segunda produção da De Anima, a companhia oficial da cidade do Rio de Janeiro.
Eliana Caminada é professora de História da Dança na UniverCidade e Universidade Castelo Branco e foi primeira bailarina do Theatro Municipal RJ Página pessoal: http://www.geocities.com/caminadabr
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