Maria Antonietta Guaycurus de Souza

 

Fala Mestra - Profa. Maria Antonietta Guaycurus de Souza

 

Fala Mestra!

 

 

 

"Sou mestra de Dança de Salão há 55 anos e considero importante que todos conheçam a história desta atividade no mundo, especialmente, no Brasil". Esta é a apresentação que a mestra faz de si mesma. Em uma conversa no mês agosto de 1999, em sua casa, Antonietta mostrou porque é a mais importante referência da atualidade em Dança de Salão. Para ela a maior dificuldade que as pessoas enfrentam ao iniciar o aprendizado da dança de salão é a inibição.

 

P - Como você vê a dança de salão hoje no Rio de Janeiro?

R - A dança mudou muito, deixando de ser, muitas vezes, uma prática de lazer e prazerosa para servir ao exibicionismo de alguns. Exibição é para ser feita no momento adequado, de show. O baile é para se dançar com todos, independente do grau de aprimoramento da pessoa. Os movimentos básicos bem feitos chamam a atenção e têm todo o charme de qualquer figura. Não é necessário mostrar que se sabe dançar e sim se comunicar com quem se está dançando, prazerosamente. Esta é a essência e a função social da dança.

 

P - O que é a dança para você?

R - É vida e sempre é comunicação. Ela estrutura o ser humano. Em todos os altos e baixos pelos quais passei a dança teve o papel de me estruturar a alma e o físico. Dançar traz saúde. Eu me curei do câncer dançando. A dança me abriu caminhos para o contato com pessoas de todas as classes sociais.

 

P - Nestes 55 anos de dança, quais foram os momentos dos quais você lembra com mais força?

R - A dança de salão me trouxe muitos momentos fortes. Nunca vou esquecer o primeiro teste que fiz na Academia Moraes, ao som da música Espinha de Bacalhau, do maestro Severino Araújo. Dançando e ensinando, passei a ser uma pessoa pública e fui valorizada pela cidade onde vivo, com o título de Cidadã Carioca. Encontrei amigos e profissionais que reconheceram o meu trabalho, como Klaus e Angel Vianna. O Klaus me convidou para dar aula na Escola de Teatro Martins Penna e, depois, na Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, na qual se formam os alunos do Teatro Municipal. Eles foram o primeiro contato com o mundo das artes cênicas. Lá fiz uma coreografia para teste dos bailarinos candidatos ao Corpo de Baile, o que me ajudou mais ainda.

A imprensa me deu apoio com suas reportagens e, em especial, o jornalista Evandro Carlos de Andrade, hoje diretor de jornalismo da TV Globo. Sou muito grata ao Sindicato Estadual dos Profissionais de Dança, à D. Elba, ao Carijó e sua esposa, Maria de Lurdes Braga, atual presidente. Todos devem se sindicalizar.

 

P - O que você pensa todo o dia?

R - Durmo e acordo pensando que vou continuar dançando. Comer, beber e dançar. O corpo exige.

 

P - Aprender e ensinar dança é uma ação natural?

R - Nos movimentamos desde a barriga da mãe. Dançar é dar continuidade ao balé do feto, quase uma "obrigação natural". Sinto que a dança educa.

Vi, muitas vezes, nas gafieiras Elite e Estudantina e em Clubes Sociais, gente humilde que mostrava mais educação do que a chamada elite. Me eduquei bastante nas gafieiras. No jeito de dançar, respeitando o par e os outros pares no salão. O cavaleiro tirava da dama para dançar com classe e a levava até a mesa quando terminavam.

Condeno a forma como estão trazendo as crianças para a dança, que deve ser uma brincadeira. Estão explorando a sexualidade infantil. Isto vai contra a educação. Minha neta dançou desde pequena. Aos 6 anos, dançando com o Jaime Arôxa, ganhou um troféu em um concurso promovido pelo Casal 20, no Clube Internacional. Mas sempre dançou como criança.

Sou do tempo em que as famílias dançavam juntas. Talvez uma forma de se resgatar este hábito seja voltarem as tardes dançantes. Eu as freqüentava em Nova Iguaçu, onde morei quando cheguei ao Rio. Ia com meus filhos e outros parentes. O presidente do clube Atlético Ponto Chic era o Dr. Bolívar de Assunção, prefeito do Município e que também dançava em família. Naquela época, anos 50, era comum tocarem conjuntos de vários tipos de música e se dançava de tudo nos salões.

 

P- A dança então é uma herança de berço?

R- A dança e as artes são herança familiar, no meu caso. A família toda cai na dança! Meu tio era baterista e cantor de ópera; minha mãe, poetisa, meu avô tocava violão e clarinete; meu pai gostava de declamar. A minha arte da dança é de família, sim. Minha mãe promovia saraus toda a semana. Comíamos os doces que minha tia Raquel fazia.

 

P- O que você aconselharia para um (a) jovem que estivesse começando como profissional de Dança de Salão?

R - O profissional além de dançar bem tem que ter técnica de ensino, ritmo, psicologia para lidar com as pessoas e tratar os alunos com dignidade. O ensino da dança requer muita psicologia, porque a atividade exige uma proximidade entre os casais e isto é delicado, alguns têm dificuldades. Há também o preconceito social, arraigado na cabeça das pessoas, de que se a mulher rebolar está se exibindo, é prostituta, e se o homem rebolar é homossexual.

São imprescindíveis a disciplina e a criatividade. O grande dançarino é aquele que é capaz dançar com qualquer um, inclusive com os alunos que têm dificuldade.

Os grandes dançarinos de hoje aprenderam com a velha guarda, nos salões de baile. Villa-Lobos procurou o povão parar se inspirar. Eu melhorei muito dançando com minhas alunas como homem. O homem precisa saber conduzir sem agressividade, com paciência, ser humilde, não humilhar a dama. Assim ele cresce. Vai ser elogiado pelas mulheres que vão achá-lo carismático e educado. Quando ensinei a dança para meus filhos e meus sobrinhos , mostrei também que o pedantismo não funciona. O que funciona é ser simples. Três dos meus filhos, Francisco, Arthur e Ana, se tornaram professores e o meu sobrinho João também dá aulas.

 

P - Dar aulas é cansativo?


R - Dar aulas para mim é um enorme prazer. Brinco e às vezes sou ríspida.

Mas a rispidez vem acompanhada de amor. É o meu jeito. Sou exigente. Uma vez me perguntaram se eu não assustava os alunos. Respondi que não, porque o aluno tem que ser bom ouvinte, estar atento. Sou alegre e de vez em quando conto uma piada, no meio da aula.

Para ser um bom profissional é preciso saber administrar conflitos. Ajudo os jovens a crescer. Quem quer ser um bom profissional deve cultivar a musicalidade, a disciplina e se sindicalizar, para fortalecer o seu trabalho socialmente. Se um jovem chega até mim disposto a aceitar estes princípios e não tem condições financeiras, geralmente concedo meia-bolsa.

 

P - Você já "pagou mico" nesta vida de dançarina?


R - Uma noite, no baile da Elite, um cara veio me tirar para dançar. Ele estava vestido como um metaleiro, com o cabelo grande e arrepiado, mascando chiclete. Fiquei com medo que ele me desconjuntasse no meio do salão. Recusei-me a dançar; disse que estava cansada. Tempos depois encontrei-o na casa de um aluno. Meu aluno me apresentou o rapaz, já mudado, e pediu que eu dançasse um maxixe com ele. Seu nome: Carlinhos de Jesus. Quando terminou a música ele perguntou: Gostou? Eu falei: Adorei! Nos tornamos grandes amigos. Ele até hoje brinca com esta história.

 

P - Quais são os seus planos neste momento?

R - Quero trabalhar para que a profissão de professor de Dança de Salão seja reconhecida. Para isto tem que haver uma regulamentação de um curso, que poderia ser de seis meses - para o aprendizado das técnicas e práticas de ensino. A maioria dos profissionais do meio está enquadrada nas categorias de coreógrafos ou ensaiadores.

Tenho um sonho: que a Dança de Salão passe a ser obrigatória no currículo escolar, como prática de lazer e sociabilidade. Isto aconteceu no Império.

Mantenho o interesse de difundir a história da Dança de Salão e tenho dado aulas em casa, palestras e cursos de reciclagem. Recebo profissionais de todo o Brasil. Uma boa parte deles conheci durante o Encontro de Dança promovido por Jaime Arôxa, no qual fui convidada especial. O Jaime é uma pessoa que me estimula bastante. Um grande profissional. Vem gente também da Argentina e de outros países. Já dei cursos em hotéis, para turistas estrangeiros, em Brasília, em Belém do Pará e em São Paulo, onde recebi uma homenagem da USP, nos anos 80. O período de carnaval é movimentado, com alunos de toda a parte.

 

P - A pessoa precisa ser magra, bonita sem nenhuma deficiência para dançar? E criança, dá para ensinar nas academias?

R - Tive uma aluna que pesava 120 quilos e era levíssima. Chegou aos 84, dançando. Existem alguns tipos de deficiência que impedem a dança. Mas há exemplos impressionantes, como o do rapaz que dançava sobre a cadeira de rodas ao som do maestro Severino Araújo, no Circo Voador; de um aluno cego, que era ótimo dançarino; e da Jacira, muda e surda, conhecida como "mudinha", dançarina espetacular que se apresentou na França, nos anos 40/50. O professor Lincon trabalha com grupos especiais e existem outros profissionais que se dedicam a ensinar pessoas portadoras de deficiência.

 

A criança exige um outro estilo de ensino. Ela está interessada em aprender brincando. A professora Rachel Mesquita tem larga experiência neste assunto. Os pais não podem forcar a criança a aprender a dançar. Ela tem que demonstrar vontade, ter a iniciativa.

 

P - Você tem uma energia impressionante. O que faz enquanto não está dançando, para manter a forma e se distrair?

R - Nunca pratiquei esportes, a não ser ginástica na escola. Meu esporte sempre foi a dança. Gosto de natação, voleibol e basquete. Me alimento bem, procurando comer produtos naturais. Leio muito. Sobre dança e sobre outros assuntos. E gosto demais de cinema. Lembro dos musicais, das sessões do Gordo e Magro e das histórias do Mazzaropi. Não perdia um filme dele. Muita coisa de dança aprendi nos filmes de Fred Astaire e Ginger Rogers e em outros que tinham coreografias. Assistia filmes românticos como O Vento Levou e também filmes sobre óperas. Gosto de orquestras e do canto lírico. Freqüentei a ópera em Manaus. O povo não ouve música erudita porque não foi acostumado.

Costumo me reunir com os amigos e com os alunos, para conversar e ver vídeos sobre dança. É um programa ótimo.

 

 

Habla Maestra!

 

 

"Soy maestra de Danza de Salón hace 55 años y considero importante que todos conozcan la historia de esta actividad en el mundo, especialmente en Brasil". Esta es la presentación que la maestra hace de si misma. En una conversación en el mes de Agosto de 1999, en su casa, Antonietta mostró por que es la referencia mas importante de la actualidad en Danza de Salón. Para ella, la mayor dificultad que las personas enfrentan al iniciar el aprendizaje es la inhibición.

P - ¿Como ves la danza de salón hoy en día en Río de Janeiro?

R - La danza ha cambiado mucho, no siendo ya, por muchas veces, una práctica de ocio por placer, mas sí para servir al exhibicionismo de algunos. Exhibición es para hacerla en el momento adecuado, de show. El baile es para bailar con todos, independiente del grado de perfeccionamiento de la persona. Los movimientos básicos bien hechos llaman la atención y tienen todo el encanto de cualquier figura. No es necesario mostrar que se sabe bailar pero sí bailar comunicándose con quién se está bailando, agradablemente. Esta es la esencia y la función social de la danza.

P - ¿Qué es la danza para ti?

R - Es vida y siempre es comunicación. Es la estructura del ser humano. En todos los altos y bajos por los que he pasado la danza ha tenido el papel de estructurar el alma y el cuerpo. Danzar trae salud. Yo me curé de cáncer bailando. La danza me abrió caminos para el contacto con personas de todas las clases sociales.

P - En los 55 años de danza, ¿cuáles han sido los momentos de que te acuerdas con mas intensidad?

R - La danza de salón me ha traído muchos momentos fuertes. Nunca me olvidaré del primer test que hice en la Academia Moraes, al son de la música Espinha de Bacalhau, del maestro Severino Araújo. Bailando y enseñando, me convertí en persona pública y he sido valorizada por la ciudad donde vivo, con el título Ciudadana Carioca. He encontrado amigos y profesionales que han reconocido mi trabajo, como Claus y Ángel Vianna. Claus me invitó a leccionar en la Escuela de Teatro Martins Penna, y después en la Escuela Estadual de Danza Maria Olenewa, en la que se forman alumnos del Teatro Municipal. Ellos fueron el primer contacto con el mundo de las artes escénicas. Allí hice una coreografía para test de los bailarinos candidatos al Cuerpo de Baile, cosa que me ayudó más todavía.

La prensa me apoyó con sus reportajes, y en especial, el periodista Evandro Carlos de Andrade, hoy día director de periodismo de la TV Globo. Soy muy grata al Sindicato Estadual de los Profesionales de Danza, a la Dña. Elba, al Carijó y su esposa Maria de Lurdes Braga, actual presidente. Todos deben sindicalizarse.

P - ¿En qué piensas todos los días?

R - Me duermo y me despierto pensando que voy a continuar bailando. Comer, beber y bailar. El cuerpo lo exige.

P - ¿Aprender y enseñar a bailar es una actitud natural?

R - Nos movemos desde el vientre de la madre. Bailar es continuar el balé del feto, casi una "obligación natural". Me he dado cuenta que la danza educa.

He visto muchas veces, en las 'gafieiras' Elite y Estudantina y en clubs sociales, gente humilde que demostraba mejor educación que las personas de la denominada elite. Me eduqué bastante en las 'gafieiras'. En la forma de bailar, respetando la pareja y las demás parejas del salón. El caballero, con elegancia invitaba la dama a bailar y luego la acompañaba hasta su mesa.

Condeno la forma como se están conduciendo los chiquillos a la danza, que debe ser una broma. Están explorando la sexualidad infantil. Esto va contra la educación. Mi nieta bailó desde pequeña. A los 6 años, bailando con Jaime Arôxa ganó un trofeo en un concurso promovido por el Casal 20, en el Club Internacional. Pero siempre bailaba como chiquilla. Soy de la época en que las familias bailaban juntas. Quizá una forma de rescatar esta costumbre sea que vuelvan las tardes danzantes. Yo las frecuentaba en Nova Iguaçú, donde viví cuando vine a Río. Iba con mis hijos y otros parientes. El presidente del club Atlético Ponto Chic era el Dr. Bolívar de Assunção, alcalde del municipio y que también bailaba en familia. Por aquella época, los años 50, eran comunes los conjuntos que tocaban varios tipos de música y se bailaba de todo en los salones.

P - Entonces, ¿bailar viene de herencia?

R - La danza y las artes son herencia familiar, en mi caso. ¡Toda la familia baila! Mi tío era percusionista además de cantor de ópera; mi madre poetisa, mi abuelo tocaba guitarra y clarinete, a mi padre le gustaba recitar. Mi arte de la danza viene de familia sí. Mi madre promovía saraus semanales. Comíamos los dulces que mi tía Raquel hacia.

P - ¿Que aconsejarías a un(a) joven que estuviera empezando como profesional de danza?

R - El profesional, además de bailar bien debe tener técnica de enseñanza, ritmo, psicología para tratar las personas y tratar los alumnos con dignidad. La enseñanza de la danza requiere mucha psicología porque esta actividad exige una proximidad entre las parejas y esto es delicado, algunos tienen dificultades. También existe el prejuicio social, arraigado en la cabeza de las personas, de que si la mujer mueve las caderas está exhibiéndose, es prostituta; y si es el hombre, dicen que es homosexual.

Son imprescindibles la disciplina y la inventiva. El grande danzarino es aquel que es capaz de bailar con cualquier uno, incluso con los alumnos que tienen dificultad.

Los grandes bailarinos de hoy en día aprendieron con los de ayer, en los salones de baile. Villa-Lobos buscó la gente del pueblo para inspirarse. Yo mejoré mucho al bailar con mis alumnas como hombre. El hombre necesita saber conducir sin agresividad, con paciencia, ser humilde, no humillar a la dama. Así él crece. Será elogiado por las mujeres, que lo encontrarán carismático y educado. Cuando enseñé a mis hijos y sobrinos a bailar, les enseñé también que pedantismo no va bien. Tres de mis hijos, Francisco, Arthur y Ana también se transformaron en profesores y mi sobrino João también dá clases.

P - ¿Dar aulas es fatigoso?

R - Para mí es un enorme placer. Hago bromas y a veces soy ríspida.

Pero la rispidez viene acompañada de amor. Es mi manera de ser. Soy exigente. Una vez me preguntaron si no asustaba a los alumnos. Respondí que no, porque el alumno debe ser buen oyente, estar atento. Soy alegre y de vez en cuando cuento un chiste, en medio de una aula.

Para ser buen profesional se necesita saber administrar conflictos. Ayudo a los jovenes a crecer. Quien desee ser un buen profesional debe cultivar la musicalidad, la disciplina y sindicalizarse, para fortalecer su trabajo socialmente. Si un joven me viene dispuesto a aceptar estos principios y no tiene posibilidades financieras, en general le concedo media beca.

P - ¿Ya te ha ocurrido sentirte ridícula alguna vez, en esta vida de danzarina?

R - Una noche, en el baile de la Elite, un sujeto me invitó a bailar. Él vestía como un "metalero", con el cabello grande y erizado, masticando chicle. Sentí miedo de que me desconjuntase en el medio del salón. Me recusé a bailar, diciéndole que estaba cansada. Después de algún tiempo, me lo encontré en casa de un alumno. Mi alumno me presentó el joven, ya con otra apariencia, y me pidió que bailara con él un maxixe. Su nombre: Carlinhos de Jesús. Cuando terminó la música él me preguntó: ¿te ha gustado? Yo dije: ¡estoy encantada! Nos hicimos grandes amigos. Hasta hoy él hace broma con esta historia.

P - ¿Qué planos tienes actualmente?

R - Quiero trabajar para que la profesión de profesor de Danza de Salón sea reconocida. Para esto hay que tener la reglamentación de un curso, que podría ser de seis meses - para que se aprendan las técnicas y prácticas de enseñanza. La mayoría de los profesionales se encuadra en las categorías de coreógrafos o de ensayadores.

Tengo un sueño: que la Danza de Salón pase a ser obligatoria en el currículo de las escuelas, como práctica de ocio y sociabilidad. Esto fué así durante el Imperio.

Mantengo el interés en difundir la historia de la Danza de Salón y vengo dando aulas en mi casa, coloquios y cursos de reciclaje. Recibo profesionales de todo el Brasil. Gran parte de ellos los conocí durante un Encuentro de Danza promovido por Jaime Arôxa, en el que fui una invitada especial. Jaime es una persona que me estimula bastante. Un grande profesional. Viene gente de Argentina y de otros países también. Ya he dado cursos en hoteles, para turistas estranjeros, en Brasília, Belém do Pará y en São Paulo, donde recibi un homenaje de la USP (Universidad de São Paulo), en los años 80. El período de Carnaval es movimentado, con alumnos de toda parte.

P - ¿Las personas han de ser delgadas, bonitas, sin ninguna deficiencia, para bailar? ¿Y a los chiquillos, se les puede enseñar en las academias?

R - Tuve una alumna que pesaba 120 quilos y era levísima. Llegó a los 84, bailando. Existen algunos tipos de deficiencia que impiden la Danza. Pero hay ejemplos impresionantes, como el del joven que bailaba en silla de ruedas al son del maestro Severino Araújo, en el Circo Voador; de un alumno ciego, que era excelente danzarino; y de Jacira, muda y sorda, que la conocían como "mudita", danzarina espectacular que llegó a presentarse en Francia, en los años 40/50. El profesor Lincon trabaja con grupos especiales y existen otros profesionales que se dedican a enseñar a personas con deficiencias físicas.

Los chiquillos exigen otro estilo de enseñanza. Ellos están interesados en aprender jugando. La profesora Rachel Mesquita tiene mucha experiencia en eso. Los padres no les pueden forzar. Ellos mismos tienen que demostrar interés, tener iniciativa.

P - Tú tienes una energía impresionante. ¿Qué haces mientras no estás bailando, para mantener la forma y distraerte?

R - Nunca he practicado deportes, a no ser gimnasia en la escuela. Mi deporte siempre ha sido la danza. Me gusta nadar, voleibol y baloncesto. Me alimento bien, procurando comer productos naturales. Leo mucho. Sobre danza y sobre otros asuntos. Y me gusta muchísimo el cine. Me acuerdo de los musicales, de las sesiones del 'Gordo y el Magro' y de las historietas de Mazzaropi. No me perdía una película de él. Muchas cosas de danza las aprendí en las películas de Fred Astaire y Ginger Rogres y en otras que tenían coreografías. Veía las películas románticas como 'Lo que el Viento se Llevó' y películas de óperas. Me gustan las orquestas y el canto lírico. En Manaus iba a la ópera. El pueblo en general no escucha música erudita porque no ha sido acostumbrado a esto.

Tengo la costumbre de reunirme con los amigos y los alumnos, para charlar y ver vídeos sobre danza. Es un excelente programa.