A partir de 1990, a dança de salão se expande no Brasil ultrapassando os limites dos salões e academias. Nas associações, clubes, condomínios, em palcos de shows, filmes e comerciais a dança de par passa a ser mais valorizada e por conseqüência, mais solicitada. A mídia vende a imagem de uma dança "up". Esta demanda favoreceu ( e ainda favorece ) a proliferação de profissionais no mercado.

Muitos alunos, no entanto , manteve-se uma procura maior por parte das mulheres de todas as idades e de uma forma significativa , de mulheres mais idosas. Com um corpo tatuado de valores religiosos , morais e sociais que por muito tempo estrangularam uma apropriação de seus próprios corpos, elas encontram na dança de salão um meio para libertarem-se. De alguma forma, a dança de salão legaliza um corpo no outro sem a necessidade de explicações. Um grande motivo. Por ser menor a pressão cultural para o seu dançar, pre- dispostas a inverterem alguns dos valores de suas vidas, atrás do prazer que compense a luta do dia a dia, com o tempo mais livre para dedicarem-se ao que já poderiam ter feito antes e não o fizeram também pelos excessivos compromissos familiares, pelo "boom" do momento, pela solidão corporal, dentre outros sentidos, elas passam a ocupar um espaço determinante neste meio. Na maioria das vezes são mulheres com uma determinada independência financeira . Isto em muito passou a ser um atrativo para o comércio .

Aprenderam a dançar mas dançar com quem? Nos bailes os corpos mais jovens , mais ágeis, com maior resistência para as longas seqüências de música a serem dançadas, mais firmes, "mais bonitos esteticamente", mais... mais... isolam as senhoras nas mesas que tomam o famoso "chá de cadeira". Isto as desagradam e em pouco tempo invertem a situação. Passam a comprar a dança dos cavalheiros e surge, o" personal dancing" . Acompanhando esta moda do "fitness" o dançarino de aluguel passa a ser uma alternativa.

Uma nova função para os dançarinos . Há muito tempo atrás já haviam bailes com cartelas perfuradas para dançarinos que recebiam pelo que dançavam mas com esquema completamente diferente do que no momento, evidenciamos.

Neste trabalho do dançarino de aluguel , uma possibilidade maior e mais rápida de lucros. Para alguns uma complementação salarial , para outros a estabilidade profissional. Em volta destes dançarinos muitas críticas ( o que no momento não serão evidenciadas). No mercado diferentes tipos de aluguel," promoters" que organizam grupos de senhoras para irem as festas já com dançarinos contratados e com pacotes fechados, tabelas com variados preços em função do nível da dança dos cavalheiros, do tempo a ser dançado, do local a se dançar, da dama que os contratam, e outros indicadores. No entanto, uma realidade: senhoras extremamente felizes dançando.

Formaram uma comunidade e entre elas começaram oficiosamente determinar regras, se tornaram cúmplices e aos poucos o processo seletivo dos dançarinos não é mais apenas uma escolha pelo que eles dançam. Agora eles estão sendo escolhidos por suas atitudes para com as damas nos salões, pela ética profissional, a forma como se vestem , pelos cuidados com a higiene pessoal, o que conversam, o que acrescentam, enfim, os dançarinos sendo mais exigidos começam a romper com a frágil visão que tinham sobre o dançar alugado . Afinal eles não dançam apenas com um corpo físico, há em cada mulher uma história de vida que precisa ser respeitada.

Neste mercado de trabalho , o passar do tempo exigirá cada vez mais pessoas competentes .Se estabelecerão somente os profissionais que se superarem. Nesta perspectiva o dois pra lá .. dois pra cá não mais sustentará a dança de salão de aluguel. Ainda bem, chega de exploradores.