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Entrevista com Nei Lopes
Entrevista com Nei Lopes
Autor do samba "Baile no Elite" e várias outras composições e livros.
Marco Antonio Perna - Jul/2003
1) Qual data e local de seu nascimento ?
R: Nasci no Irajá, subúrbio carioca, em 9 de maio de 1942.
2) Qual é a sua formação acadêmica e a profissional musical ?
R: Sou bacharel em "Direito e Ciências Sociais" (está ssim no diploma) pela
antiga Faculdade nacional de Direito da Universidade do Brasil, atual UFRJ.
Quanto à música, não tenho instrução formal e nem sei ler partitura.
3) Quando escreveu o Baile no Elite ?
R: Foi na segunda metade dos anos 70, mas não posso precisar o ano.
4) Com quem fez e como foi o processo de criação ?
R: Escrevi a letra e dei para o João Nogueira musicar.
5) O que o inspirou e porque resolveu escrever essa música ?
R: Tive dois irmãos que trabalharam no Elite: o Gimbo, trombonista, líder
do conjunto Gimbossa, e o Zeca, cantor, que no final da vida cantava na
Estudantina. O ambiente das gafieiras sempre foi para mim uma das
definições da cultura carioca.
6) Escreveu outras sobre o mesmo tema ? Quais ?
R: Tenho um samba inédito que diz, entre outras coisas: "E de repente o Rio
foi desembocar na gafieira./ A música ao vivo / dá mais incentivo/ apesar
do fiscal ..."
É uma letra que exalta as excelências da música ao vivo, em comparação com
o som das "discothèques".
7) O que voce pode falar sobre o Trajano e sobre o Mário Jorge ?
R: O Trajano eu vi a primeira vez, no Irajá, quando eu tinha uns dez anos
de idade. Namorava uma conhecida da família e já era uma figura lendária. Nos
anos 80, depois do "Baile no Elite", fui apresentado a ele na A.A. Vila
Isabel. E, nesse dia, ele dançou um pouquinho com a Sônia, minha mulher,
que é uma boa "dama". O Mário Jorge nunca vi: só ouvi falar.
8) Você conheceu outros famosos ?
R: No Irajá, onde nasci e fui criado, tinha grandes bailarinos, como por
exemplo, o Jorge Teté e o Paulinho (ex-presidente da Portela). Mas sempre
ouvi muito falar no Clito, no Esquerdinha, na Muda...
9) Porque foi suprimido o trecho final da música quando voce regravou ?
R: Eu só atualizei. Principalmente pra não encher a bola do Nelson Motta
(citado no texto anterior) que é um cara que não tem nada a ver com a
cultura brasileira e não merece ser citado numa letra de samba, nem mesmo
criticado.
10) Voce dança ?
R: Já dancei direitinho. Mas perdi a prática. Acho que só conservei a pose
e o ritmo: a variedade "dançou".
11) Alguem dançava em sua família (ou seja, frequentavam gafieiras ou
clubes dançantes) ?
R: Eu tinha umas primas (por afinidade) que freqüentavam. Além dos irmãos
músicos que tinham em torno de si uma roda de amigos gafieiristas. O Zeca,
por exemplo, conheceu sua última e mais dedicada companheira (ele faleceu
nos anos 80) na Estudantina.
12) No samba de salão, quais passos conhece ?
R: Por nome, só o puladinho, o cruzado, o espaguete e o pião. Mas,
dançando, a gente sempre inventa.
13) Em que lugares voce dançava ?
R: Dancei em clubinhos de subúrbio, só. Mas tenho um episódio interessante:
em 1956, num baile no Madureira Tênis Clube, promovido pela minha turma do
curso ginasial, fui chamado à atenção por um diretor, porque estava
"dançando gafieira".
14) A vestimenta era o linho s-120 ou qual era ?
R: Eu era garoto e pobre. No máximo, um paletozinho de brim ou caroá, uma
espécie de linho bruto que, acho, já nem mais existe. Mas o paletó era
sempre lascado atrás. Isso era importantíssimo!
15) Quais as bandas ou orquestras de que se lembra e quais você gostava
mais ?
R: O Gimbossa era bom, a Reversom, os Sete de Ouros, a Banda da Idade
Média... Mas havia grupos que nem nome tinham. Eram conhecidos pelo nome do
líder. Quanto às do rádio, aí sim: A Tabajara, aí até hoje; a Marajoara do
maestro Raimundo Lourenço; Napoleão Tavares e seus soldados musicais; a do
Maestro Carioca; a do Maestro Peruzzi; a do Maestro Cipó;a do Erlon
Chaves...
16) Existe alguma passagem pitoresca sobre dança em sua vida que você
poderia relatar ?
R: Aquela do Madureira Tênis Clube, quando eu quase fui expulso do salão,
me entristeceu e marcou muito, porque foi uma tremenda discriminação racista.
Agora, engraçado foi um dia, na quadra de uma escola de samba
leopoldinense,
num baile da Velha-Guarda, quando a saia de uma senhora, que estava
dançando, caiu, sem que ela percebesse. Ela ficou alguns segundos dançando
literalmente só de calcinha. Aliás, calçolão!
Agenda da Dança de Salão Brasileira - dancadesalao.com.br
Copyright © 1997 Marco Antonio Perna
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