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Histórico Lambada, por Chico Peltier- Ballroom Dancing Agenda by Marco Antonio Perna
Histórico Lambada, por Chico Peltier |
Versão em inglês.
From: "Chico Peltier"
To: "A LISTA"
Date: Tue, 19 Oct 1999 02:27:05 -0200
Subject: [dance] História da Lambada
História da Lambada
Essa história é bem interessante pois é praticamente contemporânea. Mas,
por incrível que pareça é muito mal contada, e cada um tenta puxar a
sardinha prá sua brasa.
Tive a oportunidade de começar a dançar bem antes da explosão da lambada e
acompanhei bem de perto todo o processo de ascensão e queda deste ritmo
como moda no Brasil e em outros países.
Estive no Pará e em outros estados da costa nordestina até o Sul da Bahia
pesquisando sobre essa história.
Assim, não resisti e preparei esse texto para vocês
e a conclusão que chego é mais ou menos assim:
As Origens - O Carimbó
Na região norte do Brasil, desde os tempos da colônia se dançava uma dança
de origem africana chamada Carimbó, tocada com tambores de tronco de árvores
enormes afinados a fogo. A dança era solta e super sensual, com movimentos
onde a mulher tentava encobrir o homem com a saia e muitos giros.
O Carimbó foi evoluindo e ganhando cara nova tanto na música como na dança.
Musicalmente foi sofrendo uma influência muito forte da música Caribenha
em virtude da proximidade física. Até hoje é comum se ouvir rádios que
tocam músicas Caribenhas no norte do Brasil ou mesmo dependendo da
localidade como o Amapá escutar as próprias rádios de outros países.
Esse contato foi gerando uma mudança tão grande que começou a gerar novos
ritmos como o Sirimbó o Lari Lari entre outros alem de dar cara nova ao
Carimbó.
O Nome e o pai
Com o tempo em Belém uma rádio local passou a chamar as formas musicais
que iam surgindo como "Ritmos de batida forte" ou ritmos de "Lambada" o
que foi pegando e firmando um novo nome para uma dança velha que agora
tinha cara nova.
A dança do Carimbó por sua vez passou a ser dançada a dois, era binária
(muito parecida com o Merengue) e bem girada. Cheguei a dançar em 1983
em Belém e em Macapá e comprei alguns LP's do rei do Carimbó, Pinduca
uma autor pouco conhecido no sul mas que fez história e pode ser
considerado como o verdadeiro pai da Lambada.
A fusão do ritmo Afro original com a música metálica e eletrônica do
Caribe deu ao Carimbó nova cor e força e permitiu com que começasse a
migrar para o nordeste, mas já com o nome de Lambada.
A Fase Bahiana da Lambada - O Primeiro BUM da Lambada
Na Bahia a dança se misturou como o Forró e começou a ganhar uma cara
nova além do ritmo ter se transformado em quaternário com um passo
diferente do Paraense.
A lambada dessa época usava as pernas bem dobradas e era marcada
lateralmente com dois movimentos para cada lado. É dessa fase o
logotipo do Lambar que mostra as pernas bem dobradas e a saia justa.
Nessa época o carnaval Bahiano estava entrando em seu apogeu e a cada
ano se lançava uma dança nova. Antes da Lambada veio o "Fricote", o
"Ti ti ti" e várias outras.
A força dos trios elétricos da Bahia lançou a Lambada no Brasil, mas
foi em Porto Seguro que ela encontrou seu terreno mais fértil. Essa
época foi conhecida como o primeiro BUM da Lambada e havia ainda
um preconceito muito grande no sul do país.
Cuidado com as confusões: O que foi proibido na década de 30 foi o
Maxixe e não a lambada que por ter movimentos e letras ousadas deu
muito o que falar. O que de fato ocorreu com a lambada é que no seu
auge foi muito confundida com algo pornográfico por pessoas que não
sabiam nada de dança e quiseram fazer sensacionalismo em cima de algo
que na verdade era apenas sensual (eles nem imaginavam o que estava
por vir a frente como as boquinhas da garrafa e companhia...)
Apesar da dança ter sido uma febre e a Lambada ter sido reconhecido
como o ritmo do verão não teve ainda uma repercussão tão forte como
a que iria suceder mais a frente.
As primeiras lambaterias que abriram não resistiram ao inverno e
fecharam, mas ainda não era o fim...
O Sucesso Internacional
Enquanto o Brasil já parecia enterrar a Lambada no Inverno a Europa
estava atenta, de olhos abertos.
Ao terminar o verão brasileiro dois empresários franceses vieram ao
Brasil e compraram os direitos autorais de mais de 300 músicas
brasileiras. Montaram o KAOMA com músicos de qualidade e uma senhora
estrutura de Marketing. O sucesso foi tão grande que rodou o mundo
todo; a Lambada virou uma febre até no Japão onde se dança até hoje.
O Segundo BUM da Lambada
A fama da Lambada no exterior foi tão grande que conseguiu algo
inimaginável: Voltou ao Brasil e fez sucesso no sul. Conseguiu uma
proeza maravilhosa que só por isso deveríamos agradecer a esse ritmo:
Consegui tirar a juventude brasileira de uma exílio de 30 anos. Nosso
jovens que deixaram de dançar a dois na era do Rock e dos Beatles
voltaram as pistas e nunca mais deixaram. Se hoje temos milhares
de escolas, uma lista de DS na Internet e muito mais jovens nas pistas
é devido ao sucesso do Kaoma e da Lambada no exterior.
A essa volta se chamou de "Segundo BUM da Lambada". Esse momento foi
bem maior e mais abrangente do que o primeiro e deixou marcas
fortíssimas na nossa cultura. Além do fato marcante dos Jovens terem
voltado a Danças de Salão levou a Lambada ao pé de Igualdade do Samba
como Música que representava o Brasil no exterior.
Apenas uma ironia.: A música do Kaoma que mas fez sucesso
"Chorando se foi" é na verdade Boliviana e se chamava "Llorando se fue".
Como no disco ele era o tema principal foi batizada de Lambada e por
esse motivo há até quem diga que a Lambada nasceu na Bolívia o que é
um disparate óbvio.
A mudança na dança
Com a explosão mundial a dança da Lambada tomou ares nunca antes
vistos no Brasil. A febre por dançarinos para Shows e filmes levou
aos dançarinos a mudarem as bases originais da Lambda passando a
incorporar muitos passo acrobáticos e giros pelas mãos (tipo Rock)
o que antes não existia na dança.
Só para se ter uma idéia eu cheguei a presenciar um concurso na
"Lambateria UM" no primeiro BUM da Lambada onde seria desclassificado
o casal que dançasse separado.
Com o auge da lambada muitos músicos quiseram se apropriar da
paternidade ou até mesmo da realeza e passaram a se chamar compositores
de Lambada, mas a verdade não tardaria a chegar, mostrando que os
aproveitadores não durariam muito como foi o caso de Sidney Magal,
fafá de Belém e outros que gravaram lambadas apenas para vender discos
mas que de fato não tinham sua bases musicais nesses ritmos.
O Declínio e as novas músicas
Depois desse sobe e desce a produção musical de lambada, que já era
fraca, foi diminuindo e como conseqüência a dança foi perdendo sua
força apesar de ter deixado milhões de aficionados por todo o Brasil
e pelo mundo.
Os dançarinos mais resistentes então, começaram a se utilizar de
outras formas musicais para poderem continuar a dançar e exercitar
um prazer recém descoberto que estava por morrer.
Assim foi surgindo o hábito de se utilizar ritmos Caribenhos como
Salsa, Soca, Merengue, ZOUK entre outros para se dançar o que se
fazia antes com as lambadas brasileiras.
Outra banda de sucesso que foi muito utilizada e chegou a representar
uma boa vendagem de discos associada a dança da lambada foi a banda
de Rumba Flamenca "Gipsy Kings'.
O fato é que a dança foi voltando sua a forma original menos acrobática
e mais suavizada onde o contato com o parceiro tem seu valor
resguardado, mas infelizmente (Como sempre queixa o Izrael) o nome
que ficou foi o ZOUK pois nosso músicos se esqueceram de nós e a
moda musical que não durou mais de dois verões deixou seus órfãos na
dança.
Será que é tão errado assim chamar a dança de ZOUK? Só sei que o fato
nos leva a crer que o ZOUK é nosso "padrasto" ou pai adotivo?
Esse assunto é muito filosófico para minha cabeça. Hoje queria apenas
contribuir trazendo algo que tive a sorte de poder viver e antes que
a nossa história passe a frente diferente da verdade quero deixar pelo
menos essa contribuição.
Feliz o povo que tem uma cultura assim tão vasta que pode escolher seu
ritmo nacional.
Mas, feliz também será o povo que souber cidar da sua cultura para que
ela não morra
Um grande abraço a todos os Zouqueiros e Lambateiros
Chico Peltier
São Paulo - Brasil
Agenda da Dança de Salão Brasileira - dancadesalao.com.br
Copyright © 1997 Marco Antonio Perna
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